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Vila Mariana tem espetáculo ao ar livre

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“Um Jardim para Educar as Bestas”, criação coletiva dos artistas Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e da produtora Daniele Sampaio entra em cartaz no SESC Vila Mariana em curta temporada. Trata-se de um duo para piano e atuação que reescreve um dos trinta e seis capítulos do livro “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe: “A Lenda do Oleiro Saburo e da Senhora Fuyu”. Originalmente ambientada no Japão, a trama é transposta para o sertão brasileiro, em diálogo com textos de Ariano Suassuna, Guimarães Rosa e Euclides da Cunha.

 Na fábula, o Seu Inhês constrói um jardim de pedras, depois de advertido pelo vizinho vidente de que uma onça Caetana mataria sua esposa. O jardim seria uma espécie de lição aos bichos, então educados pela beleza.

 Depois de estrear na Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, em 2022, e realizar uma série de apresentações pelo interior paulista, o trabalho entra em cartaz no Solarium do SESC Vila Mariana. Assim, diferentemente do que aconteceu na MITsp, agora, o público paulistano poderá conhecer a versão ao livre da obra – o trabalho, com o ator Eduardo Okamoto e músico Marcelo Onofri em cena, pode ser apresentado em praças, jardins, parque, salas de concerto e teatros.

 O impulso para o processo criativo reside em estudos de Okamoto sobre a cultura japonesa e, em especial, a dança butô – manifestação criada a partir de 1959. Em 2019, depois da eleição da ultradireita no Brasil, um professor desta dança, em um festival na Alemanha, provocou o ator: “É hora de criar a sua própria revolta na carne”, referindo-se a um dos trabalhos icônicos de Hijikata, criador fundamental do butô.

 “Naquele momento, eu pensei que, num contexto de barulho, exposição nas redes, disputas de narrativas, poderia haver revolta no silêncio. Seria possível não reagir ao que está dado, por princípio, para tentar imaginar outra coisa?”, perguntou-se o ator. A inquietação remeteu-o a personagens de “Homens Imprudentemente Poéticos”, de Valter Hugo Mãe. Estes são artesão de leques e oleiro: homens que se dedicam à arte com recolhimento e como forma de cultivo de si. Assim, reuniu o grupo de trabalho, que logo tornou a empreitada coletiva.

 Hugo Mãe escreveu a obra com referências diversas da cultura japonesa. Porém, dedica a epígrafe do livro reconhece uma espécie de homenagem a um escritor em particular: Yasunari Kawabata (1899-1972). Assim, há proximidade, ainda que considerando suas singularidades, nas obras desses escritores: textos curtos, com orações igualmente curtas que, no seu acúmulo, produzem fábula e sentido. “Para mim, é como se Kawabata estivesse escrevendo em português”, declara Okamoto.

 Considerando a inspiração de Hugo Mãe e outra reescritura de obra de Kawabata – “Memórias de Minhas Putas Tristes”, de Gabriel Garcia Márquez – a equipe decidiu recriar a história original, numa versão própria do texto: Alteraram-se a paisagem, as circunstâncias e a linguagem, assim como o desfecho da fábula.

 Outras obras, como “Orientação”, de Guimarães Rosa, bem como outros narradores do sertão, foram referência no processo. Além disso, a dramaturgia homenageia a imigração japonesa no sertão da Paraíba, especialmente dois de seus personagens fundamentais: o Seu Inhês e a sua esposa, Marly.

O processo se deu a partir de estudo literário, mas não só. Deu-se na cena. Por exemplo, a música original de Marcelo Onofri, “Bem-te-vi e o Jardim Japonês”, desempenha função narrativa equiparável às palavras redigidas no papel. Por isso, é difícil saber onde começa a dramaturgia: nas proposições de Isa Kopelman, como olhar externo; na música de Marcelo Onofri; na organização do projeto, realizada por Daniele Sampaio; na atuação e ou no movimento de Okamoto. Por isso, a criação é assinada coletivamente e as funções da ficha técnica são diluídas. A forma “duo para piano e atuação” enfatiza, justamente, esta dramaturgia multilinguagem.

 “Nosso jardim é, enfim, a narrativa de um modo nipo-sertanejo de resiliência diante da incivilidade: misto de manifesto, paciência ativa, aposta na beleza e na poesia como modo de trabalho e lapidação do espírito”, concluem os criadores.

 O espetáculo conta ainda com a colaboracão de Yumiko Yoshioka, Nina Pires, Fernando Stankuns, Binho Signorelli e Yasmim Amorim.

Serviço:

UM JARDIM PARA EDUCAR AS BESTAS

Duo para piano e atuação com Eduardo Okamoto e Marcelo Onofri

Dias 8, 9, 15, 16, 22 e 23 de abril de 2023, sábado e domingo, das 17h às 18h

Duração: 55 min

Classificação indicativa: 12 anos

 Solarium do SESC Vila Mariana

Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, São Paulo

(em caso de chuva, a sessão será transferida para a Sala Corpo & Artes)

Informações: https://www.eduardookamoto.com/jardim-garden

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