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Sociedade precisa repensar hábitos

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Eles eram invisíveis até bem pouco tempo atrás. Motoristas de caminhões de coleta domiciliar e seletiva de resíduos, coletores, garis e todos os profissionais envolvidos nos serviços de limpeza urbana ganharam destaque por conta da pandemia de coronavírus, que expôs a importância de manter as áreas públicas sempre limpas.

Dia 16 de Maio, celebra-se o Dia do Profissional da Limpeza Urbana. Desde que foi instituída a quarentena na cidade de São Paulo, ainda no mês de março, muitos moradores da capital passaram a homenagear esses profissionais, que se tornaram uma das figuras mais lembradas. Eles estão diariamente nas vias públicas, evitando que o vírus se espalhe ainda mais e garantindo que os resíduos gerados por cada habitante da cidade sejam recolhidos diariamente.

A cidade de São Paulo conta com aproximadamente 14.500 agentes de limpeza, sendo que mais de 9 mil profissionais são responsáveis pelo serviço de limpeza urbana e mais de 5 mil pela coleta domiciliar. Esse batalhão garante que os resíduos gerados pelos mais de 12,8 milhões de cidadãos da cidade de SP tenham o tratamento e destinação correta.

Atualmente, a capital conta com vários serviços municipais de limpeza de monumentos e áreas públicas em aberto, varrição e lavagem das vias, viadutos, túneis e etc.; capinação e roçada do leito de ruas, coleta domiciliar tradicional e seletiva, Ecopontos, Pátios de Compostagem e Cata Bagulho.

Mas, além de homenagear os agentes que garantem a limpeza em meio urbano, o que mais os paulistanos podem fazer? Que reflexões a quarentena nos traz e que podem ser despertadas a partir do olhar que identifica a importância desses profissionais?

Não acumule

A Universidade Livre do Meio Ambiente e Cultura da Paz, da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, elaborou um Guia de Cuidados, com dicas para a quarentena.

O isolamento social traz vários ensinamentos, a começar pela necessidade de manter a higiene pessoal, a limpeza da casa, a organização.

Assim, a primeira dica dos especialistas é para que as famílias não acumulem sem necessidade. Se cada um consumir apenas o necessário, não haverá escassez. A estocagem ainda pode provocar aumento de preços – prejudiciais à toda sociedade.

Estocar sem necessidade pode atrapalhar quem realmente precisará desses produtos, especialmente mantimentos, medicamentos e produtos de assepsia, como o álcool em gel e máscaras.

Para quem tem menos acesso a água, por exemplo, o álcool em gel pode ser a única forma de higienização das mãos e prevenção. Lavar bem as mãos com água e sabão comum, seguindo as orientações de como fazer a lavagem, já é suficiente para prevenir o contágio. Estocar o álcool em gel, nesses casos, prejudica quem precisa dele e não aumenta a proteção de quem está tomando outros cuidados.

Mas não é só isso. O consumo excessivo representa, em grande medida, um dos fatores que levou a população a essa situação. E, na quarentena, é preciso refletir sobre isso e adotar novas atitudes – contrárias à ideia da acumulação.

Sujeira e as doenças

O consumo excessivo é um problema tão grande na sociedade moderna que se tornou até quadro psiquiátrico. A acumulação compulsiva – ou transtorno de acumulação – é um padrão de comportamento que se caracteriza pelo excesso de aquisição de itens, e uma incapacidade ou relutância para o descarte da grande quantidade de objetos que cobre as áreas de estar da casa

Casas repletas de coisas, dizem os psiquiatras, criam também uma “bagunça” mental. Seus moradores têm mais dificuldade de organizar ideias e atitudes.

Mais do que isso, quintais lotados de objetos, bagulhos, itens que não têm uso cotidiano, podem também esconder escorpiões, atrair ratos e baratas, formar criadouros do mosquito Aedes aegipty, vetor da dengue e outras doenças.

A pandemia do coronavírus está mostrando ao mundo que consumo excessivo, extração predatória da natureza e limpeza urbana e residencial estão intimamente ligados com as doenças que dizimam milhares de pessoas diariamente por todo o planeta.

Passado: muito consumo

A geração de lixo no Brasil aumentou 29% de 2003 a 2014, o equivalente a cinco vezes a taxa de crescimento populacional no período, que foi 6%, de acordo com levantamento feito pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe).

Com a crise de 2014, a situação se estabilizou, mas permaneceu com índice alto – que supera um quilo de lixo por dia por habitante, em média, índice que é ainda maior na maior metrópole do país.

Isso significa que uma casa com quatro habitantes, na capital, pode extrapolar cinco quilos diários de lixo, ou um total de 150 quilos no mês. Como isso é possível?

Ao analisar esses resíduos gerados diariamente, é possível perceber que 60% é proveniente de restos de comida. Além das cascas e sementes, muita sobra de comida desperdiçada, muito alimento que estragou sem sequer ter sido aproveitado.

Outra grande parcela é composta de embalagens, que devem ser encaminhadas para a coleta seletiva – papel, metal, plástico e vidro. Esse material, além de ter valor ambiental porque, ao ser reciclado, evita novas extrações da natureza, tem também forte apelo social, já que representa o sustento de famílias de catadores e agentes que atuam na triagem de recicláveis.

Tanto a coleta seletiva quanto a domiciliar são feitas nas zonas sul e leste da capital pela concessionária Ecourbis Ambiental. Os serviços acontecem em datas e horários diferentes, por equipes e caminhões diferentes. Para saber o horário em que a coleta tradicional e a coleta seletiva acontecem em sua rua, basta acessar o site www.ecourbis.com.br/coleta/index.html.

Lembre-se de acondicionar o lixo em sacos duplos, com limite de até dois terços da capacidade, e colocá-lo na rua até duas horas antes do previsto para a passagem do caminhão – especialmente durante a fase do isolamento social, essa atitude garante o isolamento social e segurança para o profissional da limpeza urbana e para o morador.

Futuro: novas escolhas

Estimativas realizadas recentemente com base na série histórica mostravam que o Brasil alcançará uma geração anual de 100 milhões de toneladas por volta de 2030.

Entretanto, as estimativas devem ser revistas, não só no Brasil como no mundo todo, por conta da pandemia.

Antes de ser uma decisão coletiva consciente, nesse primeiro momento, a queda no consumo deve ser resultado de uma recessão profunda, com queda na renda das famílias e também redução no ritmo de produção das empresas, igualmente impactadas.

O isolamento social, portanto, deve ser encarado como um momento de rever atitudes e valores.

Por que tantos resíduos eram gerados? Por que gastamos dinheiro em mantimentos que vão sobrar ou estragar? Por que precisamos comprar objetos que serão pouco usados e podem ficar obsoletos em pouco tempo? O que podemos fazer para reduzir a quantidade de embalagens trazidas para casa?

Para onde vai tudo aquilo a que a sociedade passou a chamar de “lixo”? O que é “jogar fora”, dentro de um mesmo planeta?

Quais hábitos podem ser modificados para que as crianças da família fiquem menos propensas ao consumo e mais interessadas na experiência, na conexão direta com outras pessoas?

A quarentena ainda tem trazido outro ensinamento importante: o contato com a natureza é essencial para nossa saúde física e mental. Parques fechados na cidade, poucas atividades de lazer e cultura externas têm sido possíveis.

O momento de reflexão é agora, antes que a crise econômica e sanitária se instalem e façam as mudanças acontecerem de forma impositiva. E antes que novas agressões à natureza ou o excesso de resíduos no planeta façam surgir novas doenças para tornar a humanidade refém de suas próprias escolhas.

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