Trânsito
Sinalização de ciclovia avança na região: e quem fiscalizará ciclistas?
As ciclovias que estão sendo implantadas na Vila Mariana começam a ganhar sinalização específica. No corredor formado pelas ruas Madre Cabrini, Coronel Lisboa, Primeiro de Janeiro e Alameda das Boninas, da Vila Mariana stão sendo implantados sinalizadores de solo, semáforos especialmente para as bikes que trafegam no contrafluxo da via, placas indicando proibição do estacionamento e outras para alertar aos pedestres sobre a circulação das bikes.
Mas, uma das principais preocupações da comunidade local é justamente com a segurança dos pedestres. Na escala do trânsito, é o pedestre quem tem prioridade, seguido das bikes. E entre os pedestres, aqueles que têm mobilidade reduzida, merecem prioridade absoluta.
Vale destacar que o bairro da Vila Clementino, por conta da presença de hospitais e entidades de assistência a pessoas com deficiências, concentra grande circulação de pessoas com mobilidade reduzida.
A convivência pacífica entre os atores desse cenário estressado e violento pode realmente ser amenizada com a chegada das ciclovias e o maior nível de atenção que motoristas terão que adotar no trânsito. Entretanto, quem irá fiscalizar a atuação dos ciclistas?
A maioria das denúncias de pedestres e motoristas com relação a ciclistas que desrespeitam a lei de trânsito são a de trafegar na contra mão e sobre calçadas. Para sobre a faixa de pedestres, quando o semáforo está fechado, é outro comum e péssimo hábito de muitos deles, que em geral acabam não esperando o verde para fazer a travessia do cruzamento.
Na maioria das ciclovias, como esta da Vila Mariana, o tráfego de bicicletas é permitido em mão dupla. A preocupação, nestes casos, é com a atenção que pedestres e motoristas precisarão ter para com os ciclistas que vêm pelo lado contrário, em especial nas esquinas, já que o corredor viário onde está sendo implantada a ciclovia tem mão única.
A CET tem programado equipes para fiscalização e orientação nas áreas onde são implantadas ciclovias. No entanto, na Vila Mariana ainda se veem apenas equipes de instalação, mas não agentes orientando.
Em áreas onde há ciclovias, os técnicos avisam que, mesmo sem a inauguração oficial do trecho, como é o caso da Vila Mariana, ela seja respeitada.
Vale ainda ressaltar ao ciclista que a pista deverá ser utilizada pelo público em geral (adultos, crianças e idosos). Portanto, não se destina à prática de atividades desportivas de ciclismo, devendo ser percorrida em velocidade compatível.
Outra informação importante é que os pedestres não devem usar a ciclovia.
No entanto, apesar de questionada, a empresa não informou como será feito o processo educativo ou a fiscalização/punição aos ciclistas que cometerem infrações ou desrespeitarem o mais vulnerável no trânsito, que é o pedestre.
Os dados sobre segurança no trânsito da cidade estão defasados. Mas, o último levantamento já mostra como o trânsito pode ser perigoso, especialmente para pedestres. Em 2012, das 1.231 pessoas que perderam a vida vítimas de ocorrências fatais no sistema viário, 540 (43,8%) eram pedestres, 438 (35,5%) conduziam motocicleta e 52 (4,2%) estavam pedalando.
Resistência diminuirá, aposta especialista
A situação das ciclovias certamente é um desafio a ser vencido pela cidade. Tanto no sentido de eliminar problemas técnicos e eventuais falhas na implantação, como na criação de novos hábitos e estímulo à direção defensiva para criação de um trânsito mais humano, com responsabilização de todos os atores.
Mas, enquanto isso, barreiras e resistências serão enfrentadas. Ontem, uma polêmica tomou conta de cicloativistas e comerciantes, sobre a mudança de um trecho da ciclovia em implantação em Higienópolis. A CET já avisou que comerciantes podem acionar a Gerência de Atendimento ao Munícipe, através do e mail gre@cetsp.com.br ou pelo telefone 3396-8322, em caso de queixas, e sugestões para alterações no projeto.
Esta semana, aconteceu na Subprefeitura de Vila Mariana uma Oficina de Articulação Regional Ciclovias SP, resultado de uma parceria entre o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IDTP) e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). O objetivo é aperfeiçoar os processos de implementação da malha cicloviária na cidade.
A oficina conta com a presença da supervisora do Departamento de Planejamento Cicloviário, Suzana Leite Karagiannidis, e do especialista em mobilidade, Jon Orcutt, que implantou a malha cicloviária de Nova Iorque nas getões do ex-prefeito Michael Bloomberg e do atual Bill de Blasio.
Ele tem dito que as resistências são naturais e que o prefeito Fernando Haddad deve manter o projeto de espalhar 400km de ciclovia por toda as regiões da cidade. Para ele, em Nova Iorque, o projeto gradativamente recebeu apoio dos cidadãos, pois foram implantados uma série de aspectos focados no bem-estar social, como funcionalidade, praticidade, segurança, abertura de novos espaços públicos, integração entre os modais e baixo custo para os cofres do governo. “As resistências populares, gradativamente, deram lugar à vontade de contar com a ciclovia nos bairros, ou seja, nas portas de suas casas. As discussões nos ajudaram a melhorar o fluxo cicloviário”, afirmou.
O índice de acidentes de trânsito em Nova Iorque diminuiu “drasticamente”, motivado, segundo pesquisas, a partir do uso da bicicleta, que atualmente está na casa das 6.000 unidades. Não por acaso, de acordo com Orcutt, dois em cada três cidadãos apoiam atualmente a iniciativa.
Os participantes – técnicos de departamentos, gerentes e superintendentes de planejamento da CET, além de representantes das Subprefeituras – participaram de dinâmicas de grupos, onde trocaram várias experiências do trabalho produzido e lançaram perspectivas para o desenvolvimento da malha cicloviária na cidade.