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História

Ossadas de vala clandestina começarão a ser analisadas em imóvel locado na Vila Mariana

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Já começaram os trabalhos de identificação das 1049 ossadas encontradas, em 1990, em uma vala clandestina no Cemitério de Perus, zona norte de São Paulo. A perícia não será realizada no IML, mas sim em um imóvel especificamente locado para esta finalidade, conforme desejo das famílias de desaparecidos políticos no período da ditadura. O imóvel foi locado na Vila Mariana, próximo à Unifesp, pois parte dos peritos que vão trabalhar na análise são da Universidade localizada na mesma região. O bairro, aliás, tem forte histórico relacionado aos tempos sombrios da ditadura, já que foi na antiga sede do DOPS, na Rua Tutóia, onde está atualmente a sede da 36a. delegacia de polícia. Ali, deve ser construído um memorial em homenagem às vitimas torturadas e mortas nos porões da repressão.
A ministra de Direitos Humanos, Ideli Salvatti, informou que os peritos nacionais contratados pela Secretaria de Direitos Humanos visitaram na semana passada a casa onde ficará instalado o laboratório de análise das ossadas para orientar as reformas que precisam ser feitas. “Alugamos um imóvel porque houve rejeição das famílias à possibilidade de se fazer esse trabalho no IML [Instituto Médico-Legal]. Como não temos um banco de DNA completo dos familiares, hoje eles já iniciam a coleta do material, mesmo antes da reforma da casa”, explicou Ideli.
Segundo a ministra, em setembro ou outubro, começará a remoção das ossadas do cemitério para o imóvel, mas a identificação dos restos mortais deve continuar até o ano que vem.
O projeto conta com apoio do Ministério da Educação e Cultura e tem parceria com a Universidade Federal de São Paulo. Segundo a ministra, as duas instituições já tem um projeto em andamento para a criação de um centro de informações em antropologia forense. “É um trabalho extremamente delicado, o de confrontação de DNA. Apesar de ser algo antigo, para as famílias envolvidas, é uma questão decisiva”, disse Paulo Sérgio Pinheiro, um dos membros da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Unifesp
A reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Soraya Smaili, esteve presente,na reunião de abertura dos trabalhos de análise das ossadas de Perus, convocada pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR). Rafael Schincariol, Coordenador Geral da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (da SDH/PR), abriu a cerimônia, seguido do secretário de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, Rogério Sottili, e da reitora.
Schincariol iniciou a cerimônia anunciando a contratação oficial dos peritos nacionais e internacionais especializados em antropologia forense, que agora constituem a equipe responsável pelo levantamento antemortem dos desaparecidos políticos que podem estar entre as 1049 ossadas encontradas em 1990, no Cemitério Dom Bosco, em Perus. “A equipe antemortem vai fazer dois trabalhos: a definição precisa daqueles desaparecidos que estariam possivelmente na vala clandestina de Perus e o levantamento dos dados desses desaparecidos”, explicou.
Ele também falou sobre o momento delicado da abordagem das equipes de investigação com os familiares das vítimas, que contará com o auxílio da Cruz Vermelha. “Queremos reestruturar a relação dessas famílias com o Estado, que foi perdida há muito tempo”.
Além da reunião de abertura, outras duas foram realizadas para decidir questões técnicas do processo de investigação das ossadas.
Sottili afirmou que a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania considera o processo de análise das ossadas de Perus fundamental para que o Estado recupere a memória das vítimas da ditadura, e que a pasta está participando ativamente das tratativas desta questão através da Coordenação de Direito à Memória e à Verdade, chefiada por Carla Borges. “Queremos deixar um legado para esta cidade, que é o compromisso com os familiares dos mortos e desaparecidos políticos”, pontuou.
A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, finalizou a cerimônia ressaltando a grande responsabilidade do trabalho que será realizado e agradeceu, também, aos ministros Ideli Salvatti (Direitos Humanos), Henrique Paim (Educação) e Eleonora Menicucci (Políticas para as Mulheres), que tiveram papel fundamental na concretização do protocolo que define o estudo das ossadas de Perus. “Estamos muito conscientes da responsabilidade que temos pela frente e da história, para qual precisamos dar respostas e escrever um novo capítulo”, ponderou. A iniciativa de análise das ossadas de Perus é fruto de um protocolo assinado em março entre a Unifesp, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo e a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados.
Segundo Soraya, a licitação da empresa que fará a reforma do imóvel locado para implantação do laboratório onde serão feitos os estudos das ossadas, está em andamento. “Não será uma reforma simples, pois é preciso realizar instalações específicas, que deem segurança ao nosso trabalho. O prazo para conclusão é de três meses”, disse.
A Unifesp ainda destacou uma sala, no prédio da reitoria, que já está à disposição da equipe de investigação antemortem, para que os trabalhos sejam iniciados. A reitora mencionou, também, dois pontos importantes a serem discutidos nas próximas reuniões, que dizem respeito à segurança do laboratório de análises e do sigilo das informações que serão obtidas pela equipe de investigação.

 

O bairro de Vila Mariana tem concentrado algumas importantes ações no sentido de esclarecer pontos obscuros desse período triste da história brasileira, bem como na valorização de homenagens às vítimas. Em 31 de março, houve cerimônia por conta dos 50 anos do Golpe Militar na antiga sede do DOPS, na Vila Mariana (foto acima), onde se pretende construir um memorial. O bairro também sediará uma obra de arte no Ibirapuera e receberá as ossadas encontradas na vala clandestina descoberta em 1990, no cemitério de Perus: entre eles, deve haver desaparecidos políticos

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