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Urbanismo

Niemeyer deixou sonhos na região

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Dois projetos de Oscar Niemeyer para a Vila Mariana deixaram de ser realizados e, em ambos, o arquiteto declarou, publicamente, frustração. O arquiteto faleceu esta semana no Rio de Janeiro, prestes a completar 105 anos de vida.
Na região, deixou uma obra que faz diferença na paisagem. As famosas curvas que marcavam seus projetos poderão ser eternamente conferidas no Parque do Ibirapuera, onde estão a Oca, a Marquise e o recente auditório, que já integrava o projeto original.
Ali ao lado, está outra obra resultande dos traços de Niemeyer: a antiga sede do Detran, que recentemente foi convertida em sede definitiva do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP).
E é neste endereço que está uma de suas mais recentes frustrações. Desde que foi anunciada a transferência do Detran, em 2007, o governo do Estado encomendou a Niemeyer uma proposta para a adaptação do edifício, que sediaria obras de arte do MAC.
No entanto, no ano seguinte, o governo anunciaria a desistência de fazer a reforma conforme proposto por Niemeyer, porque o custo seria muito alto e o prazo para conclusão da obra muito longo. Na época, o arquiteto demonstrou contrariedade.
Mesmo com a opção por um outro projeto, por ter uma execução mais simples, o museu foi inaugurado depois de muitos atrasos em janeiro de 2012. Ainda assim, apenas um andar está aberto ao público e não há previsão de transferência completa do acervo do MAC, ainda dividido entre o prédio da Bienal do Ibirapuera, sua antiga sede na USP e a sede definitiva.
Ditadura
Em 2001, aos 94 anos, Niemeyer desenvolveu outro projeto para a Vila Mariana: ele acreditava que a antiga sede do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operação de Defesa Interna) deveria ser transformada em um memorial contra a tortura. O órgão só foi desativado no início da década de 1980, após a lei de Anistia.
A antiga sede é hoje parte da seda da 36a Delegacia de Polícia, na Rua Tutóia. Ali, presos políticos da época da ditadura, como Wladimir Herzog, foram torturados e mortos. Até mesmo a presidente Dilma Roussef ficou presa e foi torturada nos porões do Doi-Codi na Vila Mariana.
No ano seguinte, quando a carceragem do distrito foi finalmente desativada, a ideia chegou a ser considerada, porém não houve empolgação no governo com a proposta.
Atualmente, antigos presos políticos e descendentes de pessoas torturadas e mortas na ditadura tentam conseguir o tombamento da antiga sede.
Em entrevista no início deste ano ao jornal Folha de São Paulo, o ex-preso político Maurice Politi, que dirige o Núcleo de Preservação da Memória Política, comparou a proposta ao que ocorre em outros países, onde imóveis que já abrigaram histórias tristes se tornaram “sítios de consciência”. Para ele, é uma forma de a nova geração conhecer histórias de violações de direitos humanos para que não se repitam. Ele defende a transformação do 36º DP em um memorial contra tortura, embora não cite o projeto de Niemeyer.
A ideia encontra apoio também de pessoas ligadas ao governo do estado, como o senador Aloysio Nunes (PSDB) e de Alberto Goldman (PSDB), que foi vice-governador. Por enquanto, entretanto, nem mesmo o processo de tombamento foi aberto.

 

 

 

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1 Comentário

1 Comentário

  1. eduardo

    15 de dezembro de 2012 at 6:39

    Um absurdo fechamento do DETRAN, utilizado por milhares de pessoas, no local, para criação de um museu utilizado por poucas pessoas da elite. Esta abandonado o prédio e quem precisa resolver pendências no DETRAN é uma confusão. Absurdo a que chegamos. Será que não teria outro lugar para o museu.

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