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Urbanismo

Mesmo em meio a polêmicas, Plano Diretor foi aprovado

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Após mais três meses de tramitação na Câmara Municipal de São Paulo, a revisão do PDE (Plano Diretor Estratégico) foi aprovada em segunda e definitiva fase de votação.

O texto aprovado é o segundo substitutivo da Comissão de Política Urbana, Metropolitana e Meio Ambiente. A matéria foi aprovada com 44 votos favoráveis e 11 contrários. Como a revisão do Plano altera o zoneamento da cidade, a proposta exigiu votação nominal e quórum qualificado. Desta forma, dos 55 vereadores do Legislativo, o projeto precisou de pelo menos 37 votos.

A revisão do Plano Diretor prevê ajustes na legislação do PDE que está em vigor na cidade desde 2014 e segue até 2029 – quando será debatida uma nova regulamentação.

Relatoria

Relator do projeto, o vereador Rodrigo Goulart (PSD) destacou as alterações feitas no texto entre a primeira votação – no fim de maio – e o segundo turno de discussão. Goulart afirmou que houve avanços na proposta final em diversos tipos de zoneamento, como em zonas sociais, residenciais, ambientais e nos chamados eixos de estruturação – que são as áreas próximas ao sistema de transporte público coletivo.

O parlamentar enfatizou a questão das moradias populares. De acordo com ele, a produção de HIS (Habitação de Interesse Social) está garantida no PDE. “Locação, destinação e fiscalização das unidades de interesse social”. Ainda sobre habitação, Rodrigo ressaltou que o objetivo é “incentivar a produção de habitações de interesse social em áreas que não são consideradas de preservação permanente”.

Outro ajuste trazido pelo vereador trata da redução dos eixos de estruturação. Ele disse que a atual versão do PL diminuiu o trajeto entre as quadras passíveis de adensamento construtivo e os pontos de transporte público coletivo.

Para as regiões onde há estações de trem ou metrô, por exemplo, a distância foi de 1000 metros para 700 metros; já nas áreas de corredores de ônibus ou VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), de 450 metros para 400 metros.

Em relação ao coeficiente de aproveitamento – que indica a quantidade de metros quadrados que podem ser construídos em um terreno – também sofreu alteração. Segundo o relator, está excluído o aumento do índice. “Continuam dois, e não a possibilidade do coeficiente de aproveitamento três”.

O Fundurb (Fundo de Desenvolvimento Urbano), que determina que ao menos 40% dos recursos do Fundo sejam destinados à moradia popular, também passou por ajustes entre a primeira e a segunda votações. “Deixando de forma preferencial as habitações de interesse social da faixa 1 (renda familiar de 0 a 3 salários-mínimos). Também preferencialmente incluímos macroáreas de redução da vulnerabilidade urbana, de recuperação ambiental e de controle de requalificação urbana e ambiental”.

Goulart falou ainda que a revisão do PDE reserva parcela do Fundo para a regularização fundiária e a reurbanização, bem como para as áreas de risco e de mananciais. Segundo o parlamentar, o Fundurb prevê a destinação de verba para pavimentação e recapeamento. “No mínimo, 50% do recurso utilizado para pavimentação e recape deverão ser destinados aos bairros periféricos”.

Ações ambientais e sustentáveis também entraram na revisão final do Plano Diretor. Foram incluídos o conceito de praça urbana e novos parques municipais. “Temos a inclusão de 18 parques nos mapas e nos quadros que tratam das áreas verdes da cidade”.

O relator contou ainda que foram criados os conselhos locais de comércio, o plano municipal de segurança e um programa de lazer. Já em relação às exclusões, o território do Bixiga – na região central da cidade – foi retirado das áreas de eixo de transformação. A permissão para a verticalização nos arredores do Mirante de Santana, na zona norte, onde está instalado um equipamento meteorológico, e o novo tipo de zoneamento, chamado inicialmente de

Zona de Concessões, também foram suprimidos do projeto.

A matéria também determina que o PL que propõe a revisão da Lei de Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo da capital paulista seja encaminhado à Câmara Municipal para discussão do Legislativo paulistano após 15 dias da promulgação da proposta de aprimoramento do Plano Diretor Estratégico.

Parlamentares

Líder do governo na Câmara, o vereador Fabio Riva (PSDB) reiterou o compromisso do governo municipal e da Casa com a produção de unidades habitacionais. Ele também apoiou a proposta de transformar parte das áreas de Zepam em Zeis. “Isso conversa diretamente também com o desejo dos movimentos. Hoje, existe carência de produção de HIS e muitas famílias ainda querem permanecer morando nos seus distritos – como Perus e Pirituba (zona noroeste) – e não querem se deslocar ao centro”, disse Riva.

Para o vereador Rubinho Nunes (UNIÃO), presidente da Comissão de Política Urbana, a produção de moradia popular é fundamental e está assegurada na revisão do PDE. “Votar a favor deste projeto hoje é votar pela luta da moradia. É garantir o acesso à moradia no texto da lei, algo que até então não existia e que passa a existir com o substitutivo que nós construímos dentro da Comissão de Política Urbana. É algo inovador na legislação de São Paulo”.

O líder da bancada do PT na Câmara, vereador Senival Moura (PT), votou a favor da revisão do PDE. Ele justificou a decisão alegando que houve avanços no texto após a primeira votação, e que algumas objeções do partido foram consideradas na votação final. “Houve redução de danos”.

Senival destacou as exclusões da Zona de Concessões e da permissão de grandes empreendimentos no entorno do Mirante de Santana, a manutenção do índice do coeficiente de aproveitamento, a garantia de recursos do Fundurb para habitação social e a preservação de vilas residenciais. “Proteção através da exclusão destas (vilas) das áreas de influência dos eixos, ou seja, as vilas estão mantidas como estão hoje. Não terão alteração”.

Já o vereador Eliseu Gabriel (PSB), que votou contra do projeto, questionou o artigo que autoriza transformar espaços de Zepam em Zeis 4. “Nós temos que fazer áreas verdes, temos que criar parques, e não transformar em Zeis. Vai contra o princípio do Plano Diretor, que é justamente o adensamento. Vamos incentivar moradias no meio do mato? Nós queremos trazer para mais perto, não é essa a lógica?”.

O vereador Hélio Rodrigues (PT) discordou do texto e registrou não à revisão do Plano Diretor. “Esse Plano Diretor não carrega nele o olhar mais atento da cidade como um todo, das populações em vulnerabilidade e da questão do deslocamento pela cidade. Vamos enfrentar ao longo dos anos um adensamento maior, inimaginável e com uma mobilidade zero”.

A bancada do PSOL votou contra. A vereadora Silvia da Bancada Feminista (PSOL), criticou o processo de debate da revisão do PDE na Casa e pediu o adiamento da votação. Silvia ainda fez considerações sobre o adensamento populacional no miolo dos bairros. “É o filet mignon do mercado imobiliário. Eles querem construir ali – não HIS 1 – eles querem construir ali apartamentos de alto padrão, com quatro suítes e quatro garagens. É para isso que eles (empreendedores) querem entrar no miolo dos bairros”.

Já a vereadora Elaine do Quilombo Periférico (PSOL), entre os itens analisados por ela, disse que mesmo com a redução do perímetro que permite a construção de prédios dentro dos eixos estruturantes próximos ao transporte, a medida não é boa para as famílias de baixa renda. “É uma pegadinha irresponsável que permite construções mais próximas de regiões que deveriam ser prioritárias para a população mais pobre dessa cidade”.

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