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Segurança

Invasão do crack na região provoca medo e cria sensação de impotência

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Os números reais são desconhecidos. No mundo todo, a Onu estima que 900 mil pessoas estejam dependentes do consumo de crack, uma das drogas mais perigosas na atualidade – seja pelos reflexos que provoca na sociedade, seja pela violência que gera, ou pelo alto grau de dependência provocado. No início de março, relatório divulgado pela entidade indicou apenas o forte crescimento da droga no país, que não se restringe mais aos centros urbanos e avança pela zona rural. Estima-se que só no estado de São Paulo sejam 50 mil pessoas usando o crack. Na região, é possível sentir esse crescimento.

Praças, baixos de viadutos, calçadas junto a imóveis abandonados, terrenos baldios e até canteiros de avenidas têm se transformado em um cenário degradante: crianças, jovens, mulheres, catadores de papel e até idosos são vistos consumindo o crack. Vizinhos não sabem mais a quem recorrer ou como agir para evitar confrontos. “Meu filho chega da universidade à noite e temos muito medo de abordagens”, conta uma moradora do Jardim Aeroporto, que vive ao lado de um imenso terreno junto ao muro da cabeceira de Congonhas. Ali, a Prefeitura havia prometido construir um parque para lazer da comunidade, que seria cercado. No entanto, esta parece ser mais uma daquelas promessas sem qualquer previsão de sair do papel.

Na Praça Barão de Japurá, na Vila Guarani, até mesmo nossa equipe de reportagem foi abordada por um grupo de adolescentes que demonstrou agressividade. “Pode falar para os guardas metropolitanos que nós vamos dominar essa praça aqui”, ameaçaram. Realmente, durante a reunião do Conselho Comunitário de Segurança (Conseg) do Jabaquara, a Guarda Civil Metropolitana informou que tem feito operações constantes ali e em outros pontos de encontro de usuários de crack. No entanto, a GCM, a Polícia Militar e até assistentes sociais da Prefeitura relembram que não podem remover moradores de rua ou pessoas nessas áreas a menos que seja da vontade delas aceitar algum tratamento ou se dirigir a albergues. A prisão, por sua vez, só pode acontecer se houver a prática de algum delito flagrado pela PM.

Durante a reunião do Conseg, vizinhos de pontos de consumo de crack se mostraram desanimados. “Então, o que podemos fazer?”, questionou uma moradora. “O Conseg existe justamente para que possamos estudar alguma atitude conjunta”, respondeu o ocmandante da PM local, capitão Soares.

Se existem milhares de usuários pelo estado, o governo estadual mantém apenas um centro de atendimento específico para tratamento da dependência química, que fica em Cotia e atendeu apenas 233 pacientes ao longo de um ano. Já o Governo Federal está trabalhando na prevenção e na formação de equipes para abordagem dos usuários. Além disso, está desenvolvendo um estudo para ter dados estatísticos reais do consumo de crack no pais – os primeiros dados serão divulgados em abril. De acordo com a secretária Nacional de Políticas sobre Drogas, Paulina Duarte, o Brasil busca “mecanismos sustentáveis” para o enfrentamento ao crack. Um dos principais problemas é a falta de locais específicos para tratamento dos usuários. Principalmente, se levarmos em conta que os usuários podem contrair doenças relacionadas ao consumo, como hepatites B e C, tuberculose e aids.

Na região, a Unifesp desenvolve alguns atendimentos, mas também o alcance é limitado.

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