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Sociedade

Idosos e pessoas com deficiência realizaram fórum

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Por Victor Zacharias

O ano de 2020 começou agitado em Porto Alegra. Vários fóruns sociais mundiais temáticos se uniram para debater temas exclusivos e urgentes para o público dos idosos, pessoas com deficiência e da diversidade de gênero. O evento aconteceu na semana de 26 a 31 de janeiro.

Abertura do evento

No mais alto astral, uma banda composta por artistas locais tocou músicas regionais e populares na abertura do evento seguida de uma cerimônia ecumênica. Doze representantes que compunham a mesa falaram da importância da realização dos fóruns.

Lélio Luzardi Falcão, representante do comitê organizador do evento, disse que vê esse debate crescer no Brasil: “o envelhecimento ativo e saudável tem sido tema de destaque em todo o mundo, que se prepara para a terceira Assembleia Mundial da ONU, a ocorrer em 2022”.

Acessibilidade

A circulação em todas as partes das cidades precisa ser pensada a partir da pessoa mais vulnerável. Essa preocupação já está regulamentada por lei, tanto no ambiente externo, ruas e calçadas, bem como dentro das residências.

Nelson Kalil, presidente do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Porto Alegre – COMDEPA, lembra de casos emblemáticos como a abertura de um caixa especial e exclusivo para deficientes no segundo andar de uma farmácia, o caixa era acessível, mas o prédio não, e de órgãos públicos, como a Assembleia Estadual que não tinha acessibilidade e cuja farmácia atendia os deficientes na rua. Os conselhos precisam estar sempre atentos para fiscalizar e cobrar só assim esse descaso com esses segmentos irá mudar.

A arquiteta Cristina Brocca, que desenvolveu um curso aprofundado sobre o tema para os arquitetos, falou sobre as várias leis que estão em vigor tanto para edifícios novos como para os antigos que precisam ser reformados para se adequar à lei. Ela destacou a importância do laudo do arquiteto, pois é por ele que os juízes avaliam quando acontece a abertura de processo.

Ela chamou a atenção para a baixa visão que é a deficiência mais presente resultado de glaucoma, diabetes, idade avançada e degeneração macular. São doenças que prejudicam a visão, mas não impedem o portador de fazer suas tarefas no dia a dia. As pessoas não aceitam as limitações físicas da idade, por isso a importância da sinalização nas vias com pisos de cores recomendadas e contrastantes, os espaços adequados para manobrar cadeiras de rodas e o acompanhante, a colocação de tomadas mais altas nas paredes, portas com 90 centímetros de largura entre outras coisas.

Trabalho

A economia prateada ainda não foi explorada e nem desenvolvida como deveria, mas todos concordam que é um novo nicho de marketing com potencial gigante.

Dois bilhões de idosos em 2050

Muitos países já estão estimulando sociedade para a descoberta de novos produtos, serviços e mercados dedicado aos idosos tanto no lado do consumo e da produção.

A França, a mais organizada, entendeu o tamanho desse mercado e começou a estimular a economia prateada, estruturou um modelo para descobrir serviços e produtos específicos e montou um grupo do governo para coordenar esse setor com apoio e participação da sociedade. Criou uma associação com mais de 100 atores públicos, privados, jurídicos e físicos para que eles procurem desenvolver o mercado para esse público que não para de crescer.

Em 2016, Benjamim Zimmer, da instituição financeira Bpi France, presidente da Silver Valley, disse que esse ano o mercado deve gerar 130 bilhões de euros. Em dez anos a França terá 20 milhões de aposentados, um terço da população francesa. Nos Estados Unidos cujo PIB é de 21,3 trilhões de dólares, 25% representa o consumo dos maduros. A economia da longevidade no mundo é estimada em 7,1 trilhões (FMI). No Brasil o segmento é gigante, movimenta 1,9 trilhão de reais por ano. Na Europa os velhos não dão prejuízo.

Os idosos têm sabedoria acumulada, por isso ser empreendedor é consequência, as vezes precisa somente de estímulo e orientação. Adriana Abreu, em sua oficina, enfatizou a necessidade de ter o controle dos custos, mesmo sendo algo que muitos fogem, ela disse: – Ter algum controle é melhor do que nenhum. E lembrou que muitos bem sucedidos começaram depois dos 50, como Henry Nestlé, Josef Campbell, Charles Flint(iBM), Ray Kroc (Mc Donalds), John Pemberton (Coca Cola).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – apenas 26% dos idosos têm carteira assinada. A maior parte ainda está na informalidade ou em ocupações por conta própria. As vagas também têm sido reduzidas. Em agosto, enquanto a faixa etária até 39 anos criou mais de 140 mil vagas, 37 mil postos foram fechados para pessoas acima de 50 anos.

Segundo o IBGE 46% são autônomos, 26% carteira assinada, 9% empregador e 18% sem registro. Se unirmos os autônomos aos sem registro tem um total de 64% que podem empreender seu pequeno negócio.

É preciso se reinventar, apesar das limitações físicas e de conhecimentos tecnológicos. Reni Andrades, Secretária de Assistência Social de um pequeno município do Rio Grande do Sul chamado Barracão, contou que seu pai, agricultor com 76 anos, detentor de saberes da tecnologia social, produz legumes e hortaliças e sua filha mais nova utiliza o seu conhecimento das redes sociais para comercializar a produção.

Os idosos têm muito espaço para trabalhar em profissões como motorista, consultor/free-lancer, auxiliar de eventos, recepcionista de hotel, zelador, caseiro, professor particular, varejo, marketing digital, e-commerce, TI, corretor de imóveis entre tantas outras.

Fórum Social Mundial

Os três eventos: V Fórum Social Mundial da População Idosa, IV Fórum Social Mundial das Pessoas com Deficiência (PCDs) e II Fórum Social Mundial das Diversidades tiveram sua abertura no auditório do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul – TCE – com a presença de autoridades locais e federais dos poderes executivo, legislativo, judiciários e também de organizações sociais, instituições, federações e conselhos populares.

As centenas de participantes assistiram as oficinas na Faculdade Factum e na Câmara Municipal de Porto Alegre gratuitamente.

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6 Comentários

6 Comments

  1. Gedalva Gomes de Oliveira

    10 de fevereiro de 2020 at 21:39

    Parabéns! Assunto importantíssimo, precisamos cobrar efetividade nas ações a respeito. Aqui em Scs, existe rampas de acesso nas calçadas, mas para inglês ver.
    Rampas convexas e estreitas. Os cadeirantes capital ao desce-las. Cidade de primeiro mundo, dizem.

    • Victor Zacharias

      12 de fevereiro de 2020 at 20:11

      As autoridades precisam ser cobradas de projetos mal executados, você tem razão. Esses dois temas são emergentes pra que esses segmentos deixem de ser invisíveis. Obrigado pelo comentário.

  2. Mauro Sato

    14 de fevereiro de 2020 at 9:48

    Vitor, parabéns pelo conteúdo da postagem. Entusiasma pelas ideias, pelo posicionamento e pelas iniciativas que estão “em curso”. O Fórum é um espaço gregário pela sua natureza intrínseca. Mas, a minha caminhada no território da longevidade, do idoso, nos últimos anos mostra que as iniciativas, muito positivas em geral, já devem estar na “casa” dos “milhares” pelo Brasil afora. Mas, ainda falta um “espaço”, um local onde a maioria possa convergir e daí gerar progressão. É um desafio enorme, pois isto tem sido tentado, mas ainda não existe “esse lugar”. O que você pensa a respeito? Abs. e PARABÉNS pela matéria novamente. Mauro

    • Victor Zacharias

      14 de fevereiro de 2020 at 15:02

      Mauro, obrigado pelas considerações a respeito do tema. Falta muita coisa pra ser criada e pensada para o idoso em particular. Na França, o governo, tem olhado com atenção especial pro mercado prateado e tem buscado parceria com a iniciativa privada pra novos projetos. Esse “lugar” irá aparecer quando a imagem do idoso não estiver atrelada ao descartável, com diz o sociólogo alemão: moribundo ambulante. Portanto é importante das visibilidade aos problemas, mas não só a eles. Foi isso que preferi relatar ao invés das doenças. Luta pela acessibilidade e a realização profissional após os 60 é plenamente possível e desejável. Obrigado

  3. Mara

    15 de fevereiro de 2020 at 14:03

    Vitor essa reportagem está muito boa. Fazia tempo que eu não lia algo assim escrito por um repórter. Quantas informações e novidades que eu não sabia. Abraços!!

  4. Cristina Brocca

    29 de fevereiro de 2020 at 14:33

    Ótima matéria Victor.
    Parabéns e obrigada!!

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