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Identificação de ossadas avança na Vila Clementino

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Eram 84 homens, 23 mulheres e 5 crianças. Sete com sinais de violência, sendo três delas compatíveis com traumas provocados por armas de fogo, e quatro com traumas contundentes, que podem ter sido causadas por agressões ou acidentes. Por enquanto, o Grupo de Trabalho Perus, que vai analisar as ossadas encontradas em cemitério clandestino há 20 anos, já analisou 112 ossadas do total aproximado de 900, que até hoje aguardavam análise.
De acordo com o depoimento de testemunhas e relatos históricos, o cemitério clandestino recebeu corpos de pessoas torturadas e assassinadas durante a Ditadura Militar.
O Grupo de Trabalhou foi instituído em outubro pela Secretaria de Direitos Humanos (SDH) da Presidência da República e passou a atuar no primeiro Centro de Arqueologia e Antropologia Forense (CAAF) do Brasil, formado por especialistas estrangeiros e da Universidade Federal Paulista (Unifesp), da Vila Clementino. A sede, aliás, ficará no bairro e deverá atuar em outros casos futuros que exijam análises semelhantes.
São arqueólogos, psicólogos e antropólogos forenses que já analisaram caixas com 112 ossadas praticamente completas além de outras 27 parciais.
“Nós temos 1.049 caixas [a serem examinadas], foram abertas 112, e não sabemos ainda o que vamos encontrar nas outras. Se pensarmos que, de 112 ossadas, três têm sinais de armas de fogo, isso dá quase 3%, e isso é um índice alto.”, destacou o coordenador científico do grupo, Samuel Ferreira. Também foram descobertas as idades e estaturas médias.
Para concluir que as ossadas são, de fato, de desaparecidos políticos, ainda é necessário fazer um exame genético a fim de comparar o material dos restos mortais com o genoma das 41 famílias dos militantes assassinados durante a ditadura, ainda não encontrados, e que podem ter sido enterrados em Perus. A coleta do material genético ocorrerá durante o ano que vem. O grupo de trabalho tem prazo de 36 meses renováveis por igual período.
“Quando você acha os restos mortais de uma pessoa, você coloca aquela pessoa cidadã novamente. Reinsere a memória daquela pessoa, e a importância daquela pessoa para a história. É um resgate da minha ancestralidade, da minha história, para família e para história do Brasil”, disse Clarisse Ferreira Mantuano, sobrinha-neta de Aluísio Palhano Pedreira Ferreira, militante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), desaparecido no Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), na Rua Tutoia, na Vila Mariana, em 1971.
Fazem parte do grupo representantes da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos da Secretaria de Direitos Humanos, da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), de parentes membros da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, do Comitê Paulista pela Memória, Verdade e Justiça e por parentes consanguíneos dos desaparecidos políticos cujos restos mortais podem estar entre os exumados encontrados no Cemitério de Perus.
“Este trabalho está revelando uma política de desaparecimento. Que é algo gravíssimo. A política de desaparecimento da população pobre, negra, indígena, [executada por] grupos de extermínio. Este trabalho também vai apresentar dados para que a gente não combata apenas a ditadura, mas que se tenha uma política de desaparecimento de milhares de pessoas”, disse a secretária da SDH, Ideli Salvatti.
Histórico
Localizado na zona norte de São Paulo, o cemitério criado em abril de 1971 tem cerca de 254 mil metros quadrados de extensão. Durante a ditadura, o local foi usado para enterrar corpos de pessoas que combateram a ditadura militar. Em 1990, mais de mil ossadas enterradas em uma vala clandestina foram encontradas no local.
Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade e à Comissão Estadual da Verdade de São Paulo, o ex-administrador do Cemitério de Perus, entre os anos 1976 e 1992, Antonio Pires Eustáquio disse que não foi possível determinar o número de corpos de militantes que foram enterrados em Perus durante a ditadura.
Segundo ele, os trabalhadores do cemitério anteriores à sua gestão relatavam que os corpos dos militantes chegavam sob forte esquema de segurança e eram enterrados como indigentes em caixões de madeira bruta, cada qual em uma sepultura. Os corpos dos militantes eram enterrados nas quadras 1 e 2, da Gleba 1, onde também eram enterrados os indigentes.
A expectativa é que todas as caixas sejam analisadas até março de 2016. A próxima fase dos trabalhos já tem início em janeiro de 2015 que, a partir do perfil de presos políticos desaparecidos e dos restos mortais analisados, realizará os testes de DNA para poder revelar a identidade das ossadas.
Ao apresentar, em dezembro passado, os resultados iniciais, a reitora da Unifesp, Soraya Smaili, destacou o sucesso desta primeira fase de análises e ressaltou que ele só foi possível pelo fato de a cidade de São Paulo possuir uma Secretaria dos Direitos Humanos e Cidadania, e também devido ao empenho da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e aos esforços incansáveis dos familiares de desaparecidos políticos, que já estão há muito tempo nesta luta.
(Com informações da Agência Brasil e Unifesp)

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