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História

Ginásio do Ibirapuera pode ser demolido para dar lugar a arena multiuso e espaço comercial

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Faz parte da história da Vila Mariana, faz parte da história da cidade. O Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães, no Ibirapuera, já abrigou disputas esportivas emocionantes — entre elas, das seleções de volei vencedoras nos anos 1980. Já abrigou eventos artísticos, como shows de David Bowie ou Rolling Stones, apresentações Disney on Ice, circos… E abriga, até hoje, ações para estimular o esporte, dar suporte a atletas com menos condições.

Mas, tem sido divulgado que, no processo de concessão do espaço à iniciativa privada, está prevista a possibilidade de demolição dos prédios que integram o conjunto e a transformação do atual ginásio do complexo em Shopping Center. A notícia vem causando comoção. Nas redes sociais, antigos frequentadores do espaço passaram a lamentar a proposta e se indignar.

Mais do que isso, um abaixo assinado na internet, no site de petições Avaaz, já conta com mais de 52 mil participações. A petição aponta que o projeto que prevê a concessão do espaço para a iniciativa privada, tal como estruturado, “representa séria ameaça à integridade física e ao funcionamento de um equipamento esportivo que, além de ser muito utilizado na formação de atletas no Brasil, é constitutivo da história da cidade de São Paulo e realização fundamental da história da arquitetura brasileira”.

A petição indica também para “o grande valor de uso e afetivo pela comunidade esportiva que dele faz intenso uso desde os anos 1950”.

A proposta de concessão autoriza a demolição do Ginásio do Ibirapuera, a mesmo tempo em que determina a obrigação de que seja construída uma “arena multiuso” com capacidade para até 20 mil pessoas. Professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP explicam que o edital prevê uma arena multiuso coberta para 20 mil pessoas no lugar do estádio de atletismo, e a transformação do ginásio do Ibirapuera em shopping center.

Os críticos defendem que o Ginásio do Ibirapuera “deve ser protegido por questões estilísticas e construtivas, mas também pela sua importância dentro da arquitetura moderna brasileira e da modernização do esporte e da cultura da cidade de São Paulo em meados do século XX”. Outra crítica ao projeto é de que estava previsto o tombamento do Ginásio, como patrimônio histórico e arquitetônico da cidade, mas essa semana, o proposta foi rejeitada pelo Condephaat – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo.

Shopping e Hotel

O vereador Eduardo Suplicy (PT) também se manifestou contrário ao projeto.

“Haveria a transformação do histórico Ginásio do Ibirapuera em um shopping, o local da pista de atletismo que também serve para a prática de rugby e futebol se transformaria numa arena esportiva e de eventos e haveria ainda a construção de três torres, uma torre de apart-hotel, uma torre de hotel e outra de escritórios, todos sobre o magnífico centro aquático e o alojamento de atletas do complexo” aponta o parlamentar. “A cidade de São Paulo tem 53 shoppings operantes, enquanto conta com cerca de 7 ginásios poliesportivos, sendo o Ginásio Ibirapuera aquele de maior porte e relevância histórica e arquitetônica. O projeto foi idealizado pelo arquiteto e atleta olímpico Ícaro de Castro Mello”, completa.

Com a repercussão, o Secretário de Esportes do Estado de São Paulo, Aildo Ferreira, declarou que a concessão do espaço não prevê a demolição do Ginásio para a construção do shopping. “Na verdade, o processo de concessão não altera a função principal, que é esportiva. O local passa a contar com uma arena multiuso moderna, com capacidade para eventos, o que não acontece atualmente”, disse o secretário. “É falsa a informação de que tudo ali será demolido para a construção de um shopping”, diz o secretário, sem negar, entretanto, que o ginásio será transformado ou que não haverá instalação de espaços comerciais no local, que inclusive teriam “vista para o Parque do Ibirapuera”.

A lei que autoriza a concessão, ele aponta, prevê que sejam desenvolvidas atividades esportivas e de lazer abertas à população. “Hoje apenas uma quantidade muito pequena de pessoas é atendida ali”, diz.

“Outras atividades são permitidas, complementares, como comércio entretenimento, lazer e entretenimento”, defende.

Sobre o alojamento de atletas de alto rendimento que treinavam no local e ali ficavam instalados, ele explica que por conta da pandemia, não há atualmente ninguém abrigado ali – vale destacar, aliás, que o complexo abrigou um hospital de campanha que atendeu pacientes de Covid até 26 de setembro.

E admite que o projeto de concessão não prevê o alojamento ou programas de treinamento para essses atletas de alto rendimento. “O Centro de Excelência será continuado, que pode ser em qualquer um dos equipamentos que pode ser do governo do Estado ou de algum município conveniado. Já estamos em tratativas avançadas com um município aqui na grande São Paulo que conta com alojamento moderno e confortável. Não haverá nenhum prejuízo”, garantiu.

“O projeto prevê a construção de arena multiuso, com uso prioritário para o esporte, lazer e entretenimento. Mas não é verdade que será exclusivamente comercial”, aponta. “Hoje temos ali um equipamento defasado, obsoleto, que tem custo anual de 10 milhões de reais. Com a concessão, esse prejuízo deixa de existir. O concessionário fará investimento de 1 bilháo de reais”, garante.

“O velho Ginásio do Ibirapuera não suporta eventos internacionais: as dimensões não são apropriadas, não tem ar condicionado, as arquibancadas e poltronas não são confortáveis”.

O Complexo do Ibirapuera ocupa uma área de 100 mil metros quadrados em região muito valorizada da capital, não só por sua centralidade mas por sua proximidade com o parque.

A licitação definirá a empresa que fará o novo complexo e terá a concessão de uso por 35 anos, 5 anos de obras e 30 anos de concessão (período renovável).

Segundo o próprio Governo do Estado, a principal mudança proposta é a duplicação da capacidade do ginásio de 10 mil para 20 mil pessoas, com obras de modernização e a criação de 3,5 mil novas vagas para carros em um estacionamento subterrâneo.

A empresa vencedora também será responsável pela ampliação das vias de acesso, instalação de câmeras de monitoramento e manutenção de praças e canteiros centrais do entorno durante o período de vigência do contrato. Uma grande preocupação de moradores de bairros próximos é justamente com o aumento de trânsito naquela região.

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