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Saúde

Carl Hart estará na região para debater a guerra às drogas

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Neurocientista da Columbia University acredita que usuários precisam de alternativas, como empregos

A guerra às drogas só gera mais violência e é impossível de ser vencida. Mais do que isso, acaba por contribuir com a discriminação de grupos marginalizados, negros, pobres, que muitas vezes acabam encarcerados por conta do consumo, porte ou tráfico de substâncias proibidas. Esta opinião é defendida hoje por muitos sociólogos e profissionais da área de saúde que atuam junto a usuários eventuais ou adictos.
Um deles, com conhecimento pessoal da pobreza e do tráfico de drogas, estará em um debate que vai acontecer na região na próxima terça-feira. O professor de neuropsicofarmacologia da Universidade Columbia (EUA) e pesquisador da Divisão de Abuso de Substâncias do Instituto de Psiquiatria de Nova York, Carl Hart está no Brasil pela primeira vez e deve lotar o auditório da Unifesp.
Hart lançará seu livro Um preço muito Alto, em que, como sugere o titulo, avalia que a sociedade paga muito alto pela guerra às drogas. Se a questão hoje é discutir internação compulsória, na visão do tratamento de saúde, ou repressão e prisão de traficantes, na abordagem sobre segurança, Hart foge totalmente desta ótica. Ele fez longas e detalhadas pesquisas e chegou a conclusões, retratadas no livro, de que algo entre 80% e 90% dos usuários não são viciados. Acredita que os esforços dos pesquisadores deveria ser em entender porque os demais 10% não conseguem controlar o uso e, por outro lado, as autoridades e agentes públicos deveriam concentrar esforços em oferecer alternativas de educação, moradia e saúde para os usuários.
Para Hart, aliás, o que define o vício não é o uso diário ou rotineiro, necessariamente, mas sim a interferência que a substância provoca na realização de tarefas cotidianas. Assim como uma pessoa que, todas as noites, chega em casa e toma uma taça de vinho ou um copo de uísque não é considerada um alcoolista. ou seja, uma pessoa viciada e com problemas com o uso do álcool, para ele o uso diário de outros tipos de drogas por pessoas que conseguem manter uma vida social normal não pode ser considerado adição. Para Hart, o uso ou porte de drogas pesadas ilegais, como o crack, deveria ser considerado uma infração. Por isso, ele propõe a descriminalização do uso de cocaína (em pó ou em formato de pedra, conhecida como crack)
Hart cresceu em um bairro pobre e conta, em entrevistas a diversos órgãos de imprensa, ter acreditado por longos anos que as drogas geravam violência e deterioração nas comunidades mais pobres. Mas, hoje avalia que é a guerra às drogas que isola as comunidades mais pobres. O neurocientista acredita que a falta de informação e as políticas atuais de combate às drogas acabam por encobrir os problemas enfrentados por pessoas marginalizadas, negros em sua maioria, e gerando alto índice de prisão nesta comunidade, dificultando ainda mais sua reinserção social.
Carl Hart é o primeiro neurocientista negro titular da Columbia University e lançará a versão brasileira de seu livro na passagem pelo país. O PROAD (Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Faculdade de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo) vai aproveitar Carl Hart em São Paulo para ampliar o debate público e acadêmico sobre a questão das drogas e da dependência, respeitando a complexidade e sensibilidade do tema. A abordagem progressista apresentada por Hart provoca reflexão sobre mudanças necessárias na medicina e na política de drogas. Para compor o painel com o neurocientista americano, o PROAD ainda convidou a médica uruguaia Raquel Peyraube, que participa do comitê de elaboração e acompanhamento da lesgilação que regula a maconha no Uruguai. A Dra. Peyraube dará detalhes sobre os aspectos de saúde da proposta inovadora aprovada no país vizinho em dezembro passado.
Será na terça, dia 13, das 15h às 18h, no Teatro Marcos Lindenberg, da Unifesp, na Rua Botucatu, 862. Não é necessário fazer inscrição prévia.

 

O neurocientista está lançando a versão brasileira de seu livro, “Um Alto Preço”, em que traz conclusões de suas pesquisas sobre adição. Ele descobriu que entre 80% e 90% dos usuários aceitam “trocar” a droga por outras coisas, como dinheiro. No debate, que acontece dia 13, às 15h, haverá tradução simultânea.

 

Unifesp sedia também simpósio sobre uso medicinal de Cannabis

Durante três dias, especialistas vão discutir o uso medicinal de componentes da Cannabis, planta mais conhecida como maconha. Recentemente, tem ganhado mais voz as famílias que precisam do medicamento para o tratamento de doenças como câncer e epilepsia, mas o plantio, cultivo ou mesmo importação dos medicamentos a base da planta continuam proibidos na prática, no Brasil, mesmo para tratamento de pacientes graves. Na verdade, este será já o quarto simpósio com especialistas sobre o tema – o primeiro deles aconteceu há duas décadas mas até hoje não colheu frutos.
Esta, aliás, será uma das discussões dos especialistas presentes ao evento – por que realizar um novo simpósio e quais as expectativas para que os tratamentos a base de tetrahidrocannabinol (o chamado THC) como medicamento. Na época do primeiro evento, médicos se opuseram à ideia, mesmo com abertura para discussão da proposta, ocasionando fracasso do Congresso. Uma nova tentativa frustrada ocorreria em 2005, quando o simpósio sugeriu a apresençaão de uma moção para a ONU, o que nunca foi feito pelo governo federal.
Já o III Simpósio, realizado em 2010, foi considerado um sucesso acadêmico, mas não trouxe resultados práticos, segundo os organizadores. Neste evento se descobriu que, em 2006, haviam sido publicados no Diário Oficial uma lei s se respectivo decreto regulamentar, permitidno o plantio e o uso médico da Cannabis, desde que controlados pelo Ministério daSaúde, mas os especialistas apontam que se trata de letra morta, como se não exisitisse.
Neste IV Simpósio, haverá cientistas do Reino Unido, Canadá e Brasil, fazendo apanhado geral do uso já consagrado da Cananbis, com foco em epilepsia, esclerose múltipla, câncer e dores neuropáticas/miopáticas
O Simpósio acontecerá na sede da Cinemateca Brasileira, no Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana, de 15 a 17 de maio.
Detalhes e a programação completa em http://migre.me/j6PNY.

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