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Ato público reabre análise de ossadas do cemitério de Perus

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No dia 4 de setembro de 1990, mais de 100 ossadas foram encontradas em uma vala clandestina no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Acredita-se que a maioria delas deve ser de desaparecidos políticos, presos, torturados e assassinados durante o regime militar no Brasil. Ontem, quando se completavam 24 anos da fatídica descoberta, um ato na Assembleia Legislativa marcou a retomada dos trabalhos de investigação dos restos mortais, que será feito na Vila Mariana. O bairro, aliás, vai contar com um centro de antropologia forense, que será o primeiro do Brasil.
A primeira tarefa deste centro será justamente a investigação e identificação das mais de 1049 ossadas exumadas do cemitério de Perus. Terá a colaboração de sete peritos internacionais dos mais renomados institutos de antropologia forense, sediados na Argentina e no Peru.
O instituto é uma parceria entre as secretarias de Direitos Humanos da prefeitura de São Paulo e do governo federal, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), a Comissão da Verdade do Estado de São Paulo Rubens Paiva e a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que será responsável pelo curso de Antropologia Forense.
O presidente da Comissão da Verdade Rubens Paiva, deputado Adriano Diogo (PT), falou das circunstâncias em que esse fato se deu. Criticou a polícia de São Paulo, que oculta documentos que facilitariam a localização e identificação de restos de presos políticos. Por fim, lamentou que, ainda hoje, haja enterro de pessoas como indigentes em cemitérios municipais, mesmo que tenham identificação, como em caso recente descoberto em São Paulo.
A solenidade contou com a presença de autoridades públicas, representantes da sociedade civil e familiares de mortos e desaparecidos políticos. A identificação dos restos dos desaparecidos políticos trará um destino digno e uma reparação para as famílias, disseram os convidados, que também consideraram importante a revisão da lei da anistia e preocuparam-se com o trancamento, por parte da Justiça Federal de ações penais movidas pelo Ministério Público Federal contra torturadores e assassinos da ditadura militar.
A criação do centro de antropologia forense será o legado da Comissão da Verdade, afirmou o coordenador da Comissão Nacional da Verdade, Pedro Dallari. Em seu relatório final, a ser divulgado em dezembro, será mostrado ao País que “as graves violações aos direitos humanos durante a ditadura não foram obra de psicopatas, e sim uma política de Estado de tortura, extermínio e ocultação de corpos, em que houve uma cadeia de comando”, disse. Destacou também que as Forças Armadas ainda têm de dar explicações e desculpas para a população brasileira sobre suas ações no período.
A ministra Eleonora Menicucci, chefe da Secretaria de Políticas para Mulheres, destacou que o significado da solenidade marca o desejo que a ditadura não mais se repita, e reflete também a impunidade que ainda permeia a sociedade brasileira. Da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, a ministra Ideli Salvatti manifestou a esperança de que acabe a “política de extermínio por parte da polícia, que vitima brasileiros considerados inadequados”.
A descoberta da vala em Perus e as descobertas e o destino das ossadas lá encontradas foi narrada por Suzana Lisboa, da Comissão de Familiares de Motos e Desaparecidos Políticos, que localizou naquele cemitério o corpo de seu marido, enterrado sob nome falso.

 

Soraya Smaili, reitora da Unifesp, e Rogerio Sottili, secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo, participaram do evento ontem, dia 4, na Assembleia Legislativa

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