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Cultura

Antiga zona de prostituição carioca é tema de mostra no Museu Lasar Segall

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Quem está procurando uma agenda cultural para o fim de semana precisa incluir uma visita ao Museu Lasar Segall. Será a última oportunidade para conferir uma exposição emocionante, que mescla sensibilidade social e poesia nas telas selecionadas. E mais: vai conhecer a instalação “Cabeças de negros”, com obras da artista plástica Mônica Nador espalhadas pelo museu, dentro do projeto Intervenções, e que também está prestes a sair do local.A mostra Poéticas do Mangue reúne obras de diversos artistas que retrataram a zona de rostituição carioca. Segundo Manuel Bandeira, o chamado “Mangue” teve o seu auge, quando era frequentado por sambistas, intelectuais e artistas. “Aquilo era uma cidade dentro da cidade, com muita luz, muito movimento, muita alegria.” Com seus prostíbulos, bares e cabarés, o local exerceu atração sobre os diversos artistas. Lasar Segall lançou o álbum Mangue em 1944, com reproduções de desenhos realizados entre os anos 1925 e 1943. Nas obras sobre a prostituição, Segall volta-se, sobretudo, para questões sociais, preocupa-se com a situação de solidão e miséria. Retrata os ambientes como observador atento e não como um cliente, um usuário. Di Cavalcanti, ao contrário de Segall, frequentou o Mangue como artista e para se divertir em grandes noitadas. Di evitava ser um observador distante, um artista que vê o mundo como espectador. Nas cenas de bordéis, seus desenhos revelam intensa proximidade e, até mesmo, certa promiscuidade com os assuntos tratados. Sua arte flui como experiência vivenciada, o desenho surge como um ato de intimidade amorosa. No álbum Fantoches da meia-noite, publicado em 1921, retrata figuras notívagas, com grã-finos, poetas e prostitutas. Nesse mesmo ano, ainda vivendo na Alemanha, Segall publicou o álbum Bubu, no qual, pela primeira vez, aparece em sua obra a figura de uma prostituta. O expressionismo alemão, já nos primórdios do século XX, abordava com frequência temas da vida boêmia, para criticar a decadência dos costumes burgueses. Alguns contemporâneos de Segall, como Otto Dix, George Grosz, Otto Lange e Walter Jacob , foram incluídos nesta exposição, por terem exercido influência sobre toda uma geração de artistas brasileiros, inclusive sobre desenhos de Di Cavalcanti, realizados nos anos 1930. Estão reunidas obras de Cícero Dias, Antonio Gomide, Manoel Martins, Poty Lazzaroto, Guido Viaro e Maciej Babinski. A diversidade desses olhares mostra a riqueza das Poéticas do Mangue.E na série “Intervenções”, a obra Cabeças de negros, de Mônica Nador, inspira-se na xilogravura Cabeça de negro, de autoria de Lasar Segall. Trata-se de uma justaposição das duas cabeças: aquela feita por Segall, em 1929, e outra realizada em 2004, por um morador que participa do Jardim Miriam Arte Clube (Jamac). Uma diferença de 75 anos separa essas duas representações. A primeira, feita por um branco europeu que chega ao Brasil em 1923 e, contaminado pela cultura e por seu povo, desenvolve uma extensa “iconografia”; a segunda, um autorretrato, representação atual de um negro que vive na periferia da cidade. Tempos históricos distintos, mas que, no diálogo, trazem as marcas das diferenças, da desigualdade e da beleza. A série tem como objetivo apresentar obras no jardim principal.A exposição e a intervenção podem ser vistas até domingo, 17, das 11h às 19h. O Lasar Segall fica na Rua Berta, 111.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“O Sonho da Prostituta,” de Cícero Dias, e “Marinheiro e Prostituta”, de Lasar Segall

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