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Ação na cracolândia vai refletir na região?

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A discussão sobre a melhor forma de resolver o problema da “cracolândia”, área ocupada há anos por usuários de crack no centro da capital paulista, não é nova. Como resgatar aqueles seres humanos do perverso e intenso vício em uma substância que age rapidamente no organismo? Como revitalizar a área sem agir equivocadamente com os dependentes? Mas, esta semana, após ação da Polícia Militar para remoção dos usuários, a polêmica se acirrou. A grande questão que fica é: se não houver tratamento, basta eliminar a cracolândia?

Na região já existem vários redutos em que o uso de crack cria cenários deprimentes e causam problemas para a população moradora. Será que, com a simples expulsão dos usuários, o problema simplesmente não será tranferido de endereço, “fortalecendo” estes outros pequenos redutos espalhados em nossa região e em toda a cidade?

A Universidade Federal de São Paulo, da Vila Clementino, fez uma pesquisa que dá pistas sobre as ações necessárias para enfrentar de forma mais definitiva o problema. Mostra que 47% dos dependentes que frequentavam a cracolândia disseram que se submeteriam a um tratamento. A maior parte deles, 62,3%, expressaram o desejo de parar de usar drogas.

“O dado é muito relevante, pois aponta que existe uma vontade do usuário de interromper o uso”, disse o psiquiatra Marcelo Ribeiro, um dos coordenadores da pesquisa e diretor de Ensino da Unidade de Pesquisas em Álcool e Drogas da Unifesp.

Uma parte menor dos entrevistados (18,8%) declarou que gostaria de se submeter a um tratamento que permitisse apenas diminuir o consumo, e 18,9% não desejam interromper ou diminuir o consumo da droga. A pesquisa, divulgada hoje (10), ouviu 170 dndentes de drogas em dezembro de 2011. Foram 102 homens e 68 mulheres – 10% delas estavam grávidas.

De acordo com o levantamento, 51% dos usuários disseram acreditar que conseguiriam parar de consumir crack sem internação, enquanto 34% manifestaram que aceitariam que o tratamento da dependência da droga envolvesse, ocasionalmente, uma internação involuntária.

“Isso mostra que, em parte, o usuário reconhece que fica refém da doença a ponto de só conseguir se curar se houver uma intervenção mais incisiva, mesmo que à revelia. Apesar de a maioria dos usuários não concordar com a internação compulsória”, apontou o psiquiatra.

A pesquisa mostra também que a maioria dos usuários (61%) já se submeteu a algum tratamento contra a droga. Entre as organizações que ofereceram tratamento estão a igreja (53%), organizações não governamentais (22%), projetos sociais do Poder Público (10%), família ou amigos (5%), casas de recuperação (2%) e 8% não informaram quem ofereceu.

“Ou a participação do Poder Público foi pequena ou foi pouco enxergada por eles. Há ações da prefeitura e do estado ali, mas não são vistas pelos usuários como alternativas. Para a imensa maioria deles, o Poder Público nunca lhes ofereceu nada”, disse o médico.

Em relação aos recursos para comprar o crack, 59% declararam ter dinheiro próprio para obter a droga, 13% reconheceram que roubam, 13% disseram que recorrem à troca de objetos pessoais, 12% obtêm os recursos de esmolas, 9% de furtos, 9% de dinheiro obtido da venda de objetos de família, 11% trocam droga por sexo e 13% obtêm recursos da prestação de serviços ao traficante.

O levantamento mostra ainda que cerca de 30% dos dependentes sofreram algum tipo de violência na cracolândia. Seis mulheres disseram ter sido vítimas de abusos sexuais de outros usuários. Mais da metade dos dependentes (54%) já foram detidos ou presos.

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