História
Vítimas da ditadura identificadas pelo CAAF

O auditório da reitoria da Universidade Federal de São Paulo, na Vila Mariana, sediou um evento que promete entrar para a história. A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP) anunciou a identificação de dois desaparecidos políticos vítimas da ditadura enterrados na Vala Clandestina de Perus. O trabalho é fruto de parceria da CEMPD com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) — por meio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) — e a Prefeitura de São Paulo.
Resultante do Grupo de Trabalho Perus (GTP), o Projeto Perus identificou, em 2025, os remanescentes ósseos de Grenaldo de Jesus da Silva e Denis Casemiro. O trabalho contou com uma equipe multidisciplinar e com novos recursos tecnológicos a partir da parceria com o laboratório do International Comission on Missing Persons (ICMP), estabelecida pelo MDHC, com vistas à realização da etapa de análise genética. O Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) fica também na Vila Mariana e conta com profissionais da Unifesp.
O evento contou com transmissão ao vivo pelo canal do MDHC em https://www.youtube.com/watch?v=PeK8gy0JiLk e também da Unifesp no YouTube e ainda pode ser visto em https://www.youtube.com/watch?v=rwfJyr7pVuo. Vale destacar que o canal do MDHC traz ainda trechos e outros vídeos informativos sobre o tema.
Identificação
Grenaldo era militar da Marinha brasileira, nascido em São Luís (MA), preso em 1964 e expulso da instituição enquanto reivindicava melhores condições de trabalho. Chegou a fugir da prisão e viver na clandestinidade, mas foi morto em 30 de maio de 1972 ao tentar capturar uma aeronave no aeroporto de Congonhas, em São Paulo (SP). Documentos do IML registraram que Grenaldo teria sido sepultado em 1º de junho de 1972 no Cemitério Dom Bosco como “indigente”, e constava como desaparecido até ter seus remanescentes ósseos identificados pela equipe do Projeto Perus.
Denis Casemiro nasceu em Votuporanga (SP), foi pedreiro e trabalhador rural e atuou politicamente na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi preso em abril de 1971, torturado e executado pela equipe do DOPS/SP coordenada pelo delegado Sérgio Fleury. Na época de sua morte, foram forjadas versões de tentativas de fuga que “resultaram em sua morte”.
Com os avanços tecnológicos e análise genética à disposição, a equipe do Projeto Perus identificou Denis Casemiro em 2025. Em 2018, os trabalhos identificaram também os remanescentes de seu irmão, Dimas Antônio Casemiro.
Histórico
A Vala Clandestina de Perus é um resquício das violações de direitos humanos ocorridas durante a ditadura militar no Brasil. No local, foram enterrados corpos de pessoas indigentes, de desconhecidos e daqueles considerados opositores ao regime de opressão iniciado em 1964.
Os remanescentes ósseos foram descobertos em 1990 no Cemitério Dom Bosco, bairro Perus, na Zona Noroeste de São Paulo. Inicialmente, foram levados à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e também foram encaminhados para a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Após diversas denúncias relacionadas às condições precárias de armazenamento das ossadas, estas foram realocadas para o Instituto Médico Legal (IML) do Estado de São Paulo até serem transferidos ao Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para os devidos trabalhos de identificação.
Em 24 de março de 2025, o Governo Federal realizou um pedido de desculpas quanto à negligência na guarda e identificação dos remanescentes ósseos da Vala Clandestina de Perus, reiterando seu compromisso com a Memória e a Verdade em relação ao período da ditadura militar no Brasil.
