Educação
Ranking do Enem é critério?
Quando se fala em ENEM, algumas notícias são consideradas imprescindíveis na mídia diária: os atrasos de estudantes que chegam aos locais de prova após o fechamento dos portões, eventuais vazamentos antes e durante as provas das questões que integram o Exame Nacional de Ensino Médio e, posteriormente, o “ranking” de escolas que participaram do exame…
Esta semana, saiu o resultado do ranking do Enem e muitos pais já foram consultar a lista para saber as primeiras colocadas ou para ver como ficou posicionada a escola de seus filhos.
A tal classificação com resultado das escolas participantes é tão simbólica, que já existem famílias escolhendo a escola para seus filhos conforme o resultado no ranking do Enem. Mas, será que isto faz mesmo algum sentido?
É bem verdade que o “ranking” mostra que as escolas particulares de todo o país têm resultados melhores do que as públicas, na média. Mas, o que mostra a classificação entre as escolas?
Vários fatores, na verdade, devem ser considerados. O primeiro deles é que o Exame Nacional de Ensino Médio foi feito para avaliar os alunos e estabelecer não só oportunidades de acesso aos cursos superiores em todo o país, mas também analisar os resultados e estabelecer políticas públicas a partir deles, Assim, o “ranking” faz algum sentido para investigar resultados regionais, estabelecer políticas e metas.
Mas, é fundamental apontar que o Exame mostra o desempenho de alunos, não de escolas. Há algumas escolas que só aceitam alunos com notas altas – obviamente a expectativa é que os resultados de seus alunos no Exame traga um reflexo desta “peneira”.
E as escolas, por exemplo, que valorizam a diversidade e têm em seus quadros alunos com deficiência, jovens com síndromes e limitações? Estas escolas inclusivas, em geral, estimulam seus estudantes a participar de exames como o Enem, ou vestibulares como a Fuvest, o que pode comprometer sua posição no tal ranking. São “piores” ou “melhores” que as outras que não promovem a inclusão?
Outras, estipulam ao longo do ano letivo metas e notas de corte altas, que também resultam em desempenho acima da média.
Outra coisa a se levar em consideração: famílias com alto poder aquisitivo podem ter seus filhos em diversos cursos, proporcionar aulas de reforço, ter material de apoio e acesso a viagens, internet, tv a cabo e outros recursos que resultam em uma bagagem cultural que igualmente pode surtir bons resultados em exames.
Tudo isso é válido e faz parte das escolhas legítimas de cada núcleo familiar. Mas, é importante ponderar que a escola se insere neste cenário, não é a responsável exclusiva por ele.
Futuro
Quando se fala em futuro dos jovens, é importante que as expectativas familiares não tirem do jovem a alegria de viver e de aprender. A formação é essencial, mas é importante lembrar que a nota de corte de um estudante que passou é muito próxima à de outro que ficou por um triz de ter o resultado necessário para ingressar na faculdade. Em que estes dois alunos – o aprovado e aquele que tentará novamente – são diferentes, em termos de desempenho nas provas? Muito pouco, provavelmente.
Assim, na hora de avaliar uma escola, é importante levar em conta uma série de fatores para a formação de um ser humano completo e feliz. Não só sua “posição no ranking”.
Enem pode mudar
A polêmica reformulação do Ensino Médio que foi apresentada pelo Ministério da Educação pode trazer reflexos já na edição 2017 do Enem. Como a reforma prevê a flexibilização da trajetória dos alunos no Ensino Médio, esta diferença nas ênfases dada a cada disciplica precisará se refletir também nas provas aplicadas pelo governo federal.
A intenção do governo é aprovar a Reforma ainda este ano. Vale ressaltar que nenhuma mudança estrutural foi cogitada para a edição deste ano: o Enem 2016 acontece nos dias 5 e 6 de novembro. Uma das possibilidades é o envio de uma medida provisória, que passa a valer assim que for publicada no Diário Oficial.
Para o Enem, está sendo estudada a hipótese de criar modelos diferentes de Enem, mais direcionados para o que os estudantes aprenderam na etapa de ensino. Os alunos poderão escolher seguir algumas trajetórias: linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas – modelo usado também na divisão das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Pode haver ainda a inclusão de um quinto eixo de formação: técnica e profissional.
Outro problema a ser discutido é como cada rede de ensino vai aplicar as mudanças, já que muitas universidades são estaduais. A reforma proposta também estabelece que o novo ensino médio dará autonomia a estados. Hoje, oito milhões de jovens estão no Ensino Médio no país.