Artigo
Papa Francisco no Brasil: a simplicidade transformadora
Por: Armindo Boll*
A Primeira viagem internacional do Papa Francisco vai ser justamente, com grande alegria e expectativa, para a Jornada Mundial da Juventude – JMJ aqui no Brasil.
Primeiramente, acreditamos ser importante esclarecer o que é esta Jornada que demanda a presença do Papa. Este evento, o maior encontro de jovens católicos do mundo, foi criado pelo Beato João Paulo II e teve o seu primeiro encontro em 23 de março de 1986, em Roma. A JMJ Rio 2013 reunirá mais de 2 milhões de jovens na Cidade do Rio de Janeiro, que foi escolhida pelo Vaticano para sediar a 28ª Jornada Mundial da Juventude, entre os dias 22 a 28 de julho de 2013, tempo da estada do Papa Francisco no Brasil que segundo agenda publicada pelo Vaticano, além do Rio de Janeiro, estará em Aparecida, no Vale do Paraíba, onde realizará seu primeiro compromisso oficial, na manhã do dia 24 de julho, presidindo uma celebração eucarística no Santuário Nacional. Esta visita foi um pedido pessoal do Papa Francisco devoto de Maria. Após um almoço no Seminário Bom Jesus de Aparecida, onde também estiveram João Paulo II em 1980 e Bento XVI em 2007, à tarde seguirá para o Rio de Janeiro.
Na manhã do dia 25, quinta-feira, o compromisso é uma visita à favela da Varginha, na Zona Norte do Rio. Segundo sua assessoria, o Papa deverá rezar na pequena igreja dedicada a São Jerônimo Emiliano e oferecer um presente à comunidade. Em seguida, o Papa Francisco se dirigirá a um campo de futebol onde falará aos presentes.
O primeiro ato central da JMJ com participação do Papa será na tarde desta quinta-feira. Entre outros compromissos, às 17h, vai à Praia de Copacabana onde será celebrada a Festa da Acolhida, quando fará um discurso e abençoará os jovens.
É uma oportunidade de refletirmos, neste momento em que jovens saem às ruas do Brasil, a importância da presença de uma figura como o Papa Francisco. Desde sua escolha, em 13 de março deste ano, temos tido a oportunidade de nos admirarmos com suas atitudes como Pontífice. Sua reconhecida simplicidade sempre se manifestou no uso de transporte público, no fazer a sua própria comida, no morar em casa simples, testemunhada por seus compatriotas argentinos quando ainda era o Cardeal Borgoglio,
Desde sua primeira aparição na sacada do Vaticano, já como Papa, quando pede, com surpreendente humildade, que o povo reze por ele, anunciando que será chamado por FRANCISCO, que guarda um explicito conteúdo simbólico, ao evocar a figura de um dos santos mais conhecidos e queridos por seu amor aos pobres e à natureza, sua personalidade envolvente e carismática, vem conquistando a simpatia e a admiração de muitos, além da maioria dos católicos.
Lembramos que um dos seus primeiros gestos foi o de recusar o carro oficial para ir de ônibus, junto com os outros cardeais, em uma das primeiras saídas do Vaticano. Depois, o de ir ao hotel, onde havia se hospedado, para pagar pessoalmente e do próprio bolso, as suas despesas. Outro gesto marcante foi o de recusar morar no apartamento pontifício, continuando a morar na Casa Santa Marta, onde ficam os bispos que passam por Roma, não deixando se atrair pelos inerentes privilégios do cargo.
Isso nos faz pensar, imediatamente, nos fatos recentes (e que nos faz acreditar que devem ter se repetido muitas vezes no passado), que dão conta que o presidente do Senado e o da Câmara dos Deputados utilizaram avião da Força Aérea Brasileira para compromissos pessoais – o casamento da filha de um amigo e a partida final da Copa das Confederações, sem nenhum pudor e constrangimento, o exemplo de humildade e respeito do Papa Francisco possa levar muitos a reavaliarem suas condutas.
O Papa até este momento é reconhecido por seus gestos firmes e decididos. Bem-vindo e necessário foi o ato de nomear uma comissão, composta por cardeais dos quatro continentes, em função do olhar complementar e enriquecedor que cada um poderá dar, para uma desejada reforma na Cúria Romana, com data marcada para apresentar um primeiro relatório. E tantos outros gestos ainda – sensíveis e delicados – foram acontecendo e cativando a muitos, como o de, singelamente, abraçar e beijar um deficiente físico, na Praça de São Pedro, quebrando o protocolo e deixando a segurança atordoada, já que ele insiste em ficar muito próximo do povo.
Todos esses e outros gestos de coerência cristã, motivados pela prática de Jesus, encantam e atraem os católicos e não católicos, particularmente os jovens, que carecem tanto hoje em dia de um testemunho de vivência de valores que inspiram admiração e seguimento, como a simplicidade, num mundo consumista; a solidariedade, num mundo individualista; a fraternidade, num mundo violento; a capacidade de diálogo e de escuta num mundo ruidoso e voltado para si mesmo; acolhimento num mundo preconceituoso e intolerante.
O significado de sua presença entre nós vai além da sua importância como Chefe de Estado do Vaticano, mas, sobretudo, pela contundência de suas atitudes marcadamente inspiradas nos Evangelhos que incita a Igreja do Brasil a rever suas atitudes, a partir da atuação efetiva de seus membros – bispos, padres e leigos, além de sua ação pastoral, em vista de uma maior e comprometida aproximação daqueles que mais necessitam, colocando-se ao lado deles em suas lutas por uma vida com maior dignidade e respeito, partilhando suas esperanças, ajudando-os a concretizar seus sonhos de uma sociedade mais participativa, mais igualitária, mais justa e mais humana para todos.
*Armindo Boll, morador da Saúde, é historiador, filósofo, teólogo