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Pandemia mudou rotina das famílias
Não basta “querer” mudar o mundo, o planeta. É preciso tomar atitudes, modificar antigos hábitos. A pandemia e o consequente isolamento social têm forçosamente levado milhares de pessoas a alterar a rotina completamente. Tanto por questões de proteção à saúde quanto por razões econômicas, com redução da renda familiar.
Além de salvar vidas durante a quarentena, esses novos modelos de vida podem salvar a natureza, dar ao planeta condições de se regenerar para as próximas gerações. Algumas famílias já estão percebendo essas transformações e tirando lições positivas de um momento tão difícil e de impactos tão fortes.
Trabalho em casa
Muitas empresas passsaram a adotar o sistema de ‘home office’ para proteger seus funcionários. O novo esquema provocou uma série de adaptações tanto para as próprias corporações quanto para os trabalhadores, que passaram a ficar mais horas em casa, deixaram de fazer refeições em restaurantes, passaram a ter que planejar compras de supermercado e cardápios para almoço e jantar.
“Eu já vinha me habituando porque tive um problema no tornozelo em 2019 e passei a trabalhar com mais frequência em casa. Evito forçar o joelho, evito dirigir e andar pela cidade”, relata Heitor Tommasini, morador do Jardim da Saúde.
Além de já estar obrigatoriamente isolado em casa há mais de um ano, Tommasini sempre foi preocupado com a preservação ambiental. Separa resíduos em casa, encaminha recicláveis para coleta seletiva e procura gerar a menor quantidade possível de resíduos.
Na casa dele, a opção foi de planejar compras a longo prazo – exceto perecíveis, para ir menos vezes ao supermercados. “Cozinhamos tudo que compramos de uma vez e congelamos”, conta. Outra coisa que se tornou hábito foi a limpeza das compras, a higienização completa e constante de tudo que vem do supermercado. “Mas, depois do uso, todas as embalagens e vidros e papel e latas vão para o reciclável”, conta Heitor.
Essa escolha foi para economizar tempo: tanto o trabalho dele quanto o da esposa, que é professora, aumentou muito, já que mesclar as tarefas profissionais e pessoais traz desafios. “Faz parte do novo normal e todos vamos aprender com isso”, observa. “A manutenção e organização da casa passaram a ser rotina, inclusive com lavagem de caixas d’água e reorganização da parte elétrica, conciliando com outras tarefas”, diz. Economizar recursos – tanto financeiros quanto da natureza – acabou se tornando uma consequência, portanto. “Não compramos nada que não fosse essencial e adiamos um projeto de reforma. Ficamos mais em casa e até aniversários celebramos por videoconferências”, completa .
Menos desperdício
No Planalto Paulista, uma família inteira passou a trabalhar em sistema de home office – seis adultos. Pai de três filhos – uma delas casada – Carlos Cruzelhes acreditava que a diferença de gerações poderia gerar embates naturais. Mas foi justamente o contrário. O diálogo se instalou de forma propositiva, com trocas de ideias, refeições preparadas e saboreadas em família, carteado nas horas vagas. “Estamos assistindo muito pouco à tv”, diz o morador.
E esse incentivo à coletividade trouxe resultados também no consumo e geração de resíduos. “Começamos a perceber o quanto desperdiçamos na quantidade de alimentos e variedade.Todas as sobras estão sendo reaproveitadas ao invés de irem para o lixo. Diminuímos a quantidade diária pois nós passamos a cozinhar os alimentos e percebemos o desperdício”, explica, acrescentando que essas novas atitudes levaram à redução dos resíduos orgânicos, ou seja, do “lixo” comum.
Já os recicláveis, que a família separa e encaminha para a coleta seletiva há anos, permanecem em quantidade semelhante – a maioria, embalagens de produtos de higiene, limpeza e alimentos vindos do supermercado. Ou seja, apesar de a família toda estar em casa o tempo todo, o volume de recicláveis se manteve por conta do consumo consciente.
“Costumávamos comprar mensalmente e agora semanalmente. Percebemos que não há necessidade de manter estoque, que dava sensação de segurança e fartura. Isso nos fez rever nosso consumo. As despesas com cartão de crédito diminuíram muito”, completa.
Até mesmo em outras compras, houve redução. “Começamos a ver o quanto de remédio tínhamos estocados e muitos com prazo de validade vencidos, um absurdo”, aponta Cruzelhes. A família também tem doado cestas básicas e está selecionando outras roupas e objetos em bom estado e sem uso para encaminhar a instituições ou pessoas carentes.
Novos planos
Já a família de Elisabeth Camolesi, moradora da Vila Mariana, viu a quantidade de resíduos aumentar – mas não sem justificativa. Ela, o marido e as duas filhas passavam o dia todo fora de casa, comiam em restaurantes, e agora fazem todas as refeições em casa – exceto a própria Elisabeth, que trabalha na área de saúde e assistência social e só viu sua rotina se acelerar durante a pandemia.
Mas, continuam a fazer a separação do material reciclável e resíduos orgânicos – o condomínio onde moram mantêm o encaminhamento para a coleta seletiva e considera o acondicionamento correto dos resíduos comuns como essencial – principalmente nesse momento de pandemia, em que a limpeza de áreas de uso comum ganha ainda mais importância.
“Temos também separado muito material reciclável por conta dos pedidos de entrega de comida”, diz. “Todos trabalham e estudam o dia inteiro. Então, embora a gente goste de cozinhar, também temos feito muitos pedidos de comida porque é uma forma de relaxar, ter um momento em família saboreando coisas gostosas escolhidas em conjunto”, diz Elisabeth. “E sabemos que assim apoiamos os restaurantes, as pequenas empresas que estão de portas fechadas, agora”, diz ela, apontando saber a importância de manter a sustentabilidade na economia regional.
A assistente social conta que outra mudança intensa no ritmo da família é que passaram a valorizar mais os momentos vividos. “Não me importo mais em comprar coisas novas, roupas, calçados, com a mesma frequência. Planejamos viajar, sair em família”, conclui, demonstrando que a economia do futuro pode ter menos geração de resíduos, com consumo mais consciente e controlado, e valorizando experiências coletivas.
Produtores locais
Situação similar é a da moradora da Chácara Inglesa Lais Gagliardi. Ela passou por uma cirurgia na coluna no início desse ano e também está com sua mobilidade reduzida. Tem se revezado entre sua casa paulistana e uma chácara em município próximo à capital.
“Como sempre reciclei, os hábitos em casa permaneceram os mesmos, geramos poucos resíduos orgânicos ou rejeitos”, conta. “Também temos, em nossa rua, contâineres , para lixo comum e outro para recicláveis, o que acaba ajudando para a destinação correta”.
A pandemia, relembra ela, facilitou a implementação de um projeto pessoal e de consumo, ao mesmo tempo. “Sou vegetariana e meu sonho era um dia conseguir comer o que eu plantasse. Hoje posso dizer que os temperos como salsinha, cebolinha e cebolete e alfaces consumidos aqui em casa são todas da nossa horta que fizemos em nossa chácara. Por conta da horta acabei conhecendo produtores de orgânicos e de queijo e iogurte, ou seja, hoje nossa alimentação é bem mais saudável, além do que ajudamos o pequenos produtores ao adquirir produtos deles”, relata.
Laís avalia que a pandemia poderia ampliar a reflexão das pessoas sobre essas questões – consumo, geração de resíduos, economia sustentável. Mas tem receios de que o cansaço e a irritação por conta da quarentena possam gerar mais decepção e isolamento. “O consumo consciente é algo que levaremos tempo, infelizmente”, diz ela que, ao mesmo tempo, aponta como positivo o aumento do volume de recicláveis destinado à coleta seletiva.
Recicle também
Quem está gerando mais recicláveis por conta dos pedidos de delivery ou do aumento das embalagens de produtos utilizados, pode encaminhar esse material para as centrais mecanizadas de triagem.
Tanto a coleta seletiva quanto a tradicional são feitas, nas zona sul e leste paulistanas, pela Ecourbis Ambiental – em datas e com equipes diferentes. Para saber a data e horário em que cada caminhão passa em sua rua, acesse: www.ecourbis.com.br/coleta.html