Cinema
Impasse sobre o futuro da Cinemateca continua
A semana foi marcada por mais um ato em defesa da Cinemateca Brasileira, localizada na Vila Mariana. O “Abraçaço” contou com projeções de laser por Paulo Fluxuz, manifestação de trabalhadores do espaço – que estão há mais de três meses sem receber, além de apoiadores como pessoas do setor audiovisual, vizinhos e outros amantes da arte e da história brasileira. E teve também ação ajuizada pelo Ministério Público Federal, que aponta “estrangulamento financeiro e abandono administrativo” da entidade por parte do Governo Federal, que deveria ter repassado 12 milhões previstos no Orçamento 2020 da União para a entidade, mas nenhum centavo sequer foi efetivamente destinado, nem para manutenção, nem para pagamento de trabalhadores ou de contas.
O impasse envolvendo a instituição, que já tem mais de 70 anos de existência, se prolonga. Há notícias de que o Governo Federal, atualmente responsável pela entidade, esteja promovendo reuniões para definir o futuro da Cinemateca, que vinha sendo gerenciada por uma organização da Sociedade Civil, mas cujo contrato foi rompido.
O presidente Bolsonaro havia prometido dar a coordenação da Cinemateca à atriz Regina Duarte, quando ela deixou a Secretaria de Cultura, mas nem essa promessa se concretizou , até porque o cargo de direção nem sequer existe.
A situação da Cinemateca também tem sido alvo de discussões na Prefeitura, Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo e na Câmara Municipal. Uma das hipóteses é trazer o espaço para o gerenciamento da Prefeitura. Enquanto isso, os trabalhadores da Cinemateca têm procurado chamar a atenção também para a situação de cada um deles, todos sem salários e benefícios há meses. Uma arrecadação online busca amparar esses profissionais.
A Cinemateca está até mesmo sem brigada de incêndio. Vale relembrar que os filmes são material altamente inflamável e que outros incêndios no passado já destruíram parcela do acervo audiovisual ali abrigado, que é o maior da América Latina e um dos maiores do mundo.
Energia
Para piorar, atualmente a instituição tem uma dívida de R$ 450 mil com a Enel, companhia que fornece energia elétrica em São Paulo e ameaça cortar a energia, o que impediria a continuidade do funcionamento do ar condicionado no prédio. Sem climatização apropriada e sem supervisão constantes, os filmes de nitrato de celulose, usados pela indústria cinematográfica até os anos 1950, podem facilmente incendiar.
Acervo
Até agora, o Ministério do Turismo, ao qual a Secretaria Especial da Cultura está subordinada, apenas divulga notas destacando “que segue trabalhando para alinhar as ações e definir, dentro das competências institucionais, a forma ideal para reincorporação da Cinemateca à União”. Além dos trabalhadores, da questão do rico e histórico acervo, a Cinemateca ainda ganha destaque por estar sediada em um prédio que é patrimônio histórico e arquitetônico tombato nos três níveis – municpial, estadual e federal. Os galpões, que foram um antigo matadouro na virada do século XIX para XX, foram reformados na década de 1990 justamente para dar mais segurança e destaque ao acervo audiovisual brasileiro.