Cultura
Governo Federal pode tirar Cinemateca da Vila Mariana
Na seção Radar, da Revista Veja, o colunista Robson Bonin afirma que o presidente Jair Bolsonaro já autorizou que o secretário de Cultura, Mario Frios, e o ministro do Turismo, Marcelo Alvaro Antonio, a viablizarem a transferência da Cinemateca Brasileira para Brasília. Ainda de acordo com o colunista, a única demanda presidencial seria que a mudança não gerasse custos.
O senador tucano Izalci Lucas (PSDB-DF) teria sido escolhido para encontrar parceiros e um local para a instalação da nova cinemateca na capital federal. O senador confirmou a missão ao jornalista.
Ao mesmo tempo, o secretário de Cultura e o ministro do turismo gravaram e divulgaram um vídeo em que afirmam terem enviados técnicos à Cinemateca, que teriam sido impedidos de entrar no prédio, na semana passada. No vídeo, dizem estar em busca da melhor solução para o espaço e que não vão ceder a chantagens e nem pagarão à Associação de Comunicação Educativa Roquete Pinto (Acerp), responsável pela gestão da instituição cinematográfica, o valor que deveria ter sido destinado à Cinemateca em 2020 – 12 milhões de reais, previstos em orçamento – porque o contrato com a entidade foi encerrado no final do ano passado.
A Acerp questiona o encerramento unilateral do contrato e a pendência tem gerado mais do que polêmicas e discussões. Contas de água e energia elétrica não estão sendo pagas, colocando o acervo da instituição em risco, já que o ar condicionado no local é imprescindível para manter o acervo e evitar incêndios. Também os trabalhadores da Cinemateca estão sem receber salários há mais de três meses.
Os trabalhadores, por sua vez, acham que a ideia de tranferência é apenas um blefe do governo federal e se queixam de terem sido mantidos fora das negociações do governo federal com a Acerp. Há um mês, o secretário de cultura e o Ministro do Turismo fizeram reunião com representates da entidade na sede da Cinemateca, na Vila Mariana, mas teriam se recusado a conversar com os trabalhadores.
Várias manifestações têm sido promovidas pela população e trabalhadores em volta do histórico prédio da Vila Mariana, mesmo com a pandemia. Na semana passada, houve projeções de laser e um “abraçaço” na Cinemateca.
Em maio, quando a secretária de turismo Regina Duarte foi desligada do cargo, o presidente Bolsonaro havia prometido que ela assumiria a direção da Cinemateca e a atriz celebrou o fato de a instituição estar perto da casa dela.
Mas, a ideia foi abandonada e, de lá para cá, o futuro da Cinemateca ganhou destaque na imprensa e na justiça. Na semana passada, o Ministério Público Federal ajuizou ação contra o “estrangulamento financeiro e abandono administrativo” da entidade por parte do Governo Federal.
A Cinemateca ocupa o prédio da Vila Mariana desde a década de 1990, quando a histórica construção foi restaurada – construídos no final do século XIX, aqueles charmosos galpões antigos já abrigaram o Matadouro Municipal que abastecia a cidade.
A inevitável pergunta que fica é: como poderia ser feita sem custos uma transferência desse porte? O prédio da Vila Mariana foi restaurado já tendo em vista que abrigaria o acervo da Cinemateca – que é o maior acervo audiovisual da América Latina. Tem salas climatizadas, biblioteca, salas de exibição, ou seja, foi todo planejado para exercer essa função cultural.
No final de junho, vereadores, deputados estaduais e o próprio prefeito Bruno Covas se envolveram nas negociações e há especulações de que a Prefeitura pretendia assumir o espaço, o que teria gerado a ideia no núcleo do Governo Federal de transferência para Brasília.