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Estudos mostram que uma a cada dez pessoas tem bipolaridade

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Se você achava que aquele vizinho do apartamento de cima que ficava gritando com a esposa, quase todos os dias, era bipolar, talvez você estivesse certo. Estudos realizados em Zurique na Suiça, e replicados em quase todo o mundo, inclusive no Brasil, mostram que até 10 % da população preenche critérios diagnósticos para o chamado Espectro Bipolar.
Antigamente, os pesquisadores só consideravam bipolares, as pessoas que apresentavam sintomas da bipolaridade, por no mínimo quatro dias. Com o passar do tempo, foi percebido que muitas pessoas tem oscilação do humor em períodos menores, como um ou dois dias, ou pasmem, até no mesmo dia. Assim, hoje sabemos que as pessoas podem acordar mais deprimidas e ao longo do dia apresentar mudanças de humor, que podem passar por uma simples irritabilidade, mas podem chegar a uma exaltação de difícil controle, o que simplesmente pode arruinar um casamento, ou até mesmo afastar um filho do núcleo de uma família.
As pessoas que pertencem ao Espectro Bipolar, permanecem a maior parte de suas vidas em depressão, mas sabemos que é um tipo de depressão diferente, que os pesquisadores convencionaram chamar de depressão bipolar. Essa depressão é diferente pois sabemos que os pacientes com depressão unipolar não tem variação do humor, permanecem praticamente todo o tempo sem energia, com pouca disposição para sair de casa, sem motivação para trabalhar e com uma tristeza contínua, enquanto os pacientes portadores da bipolaridade, ao contrário, frequentemente tem acessos de irritação ou mesmo raiva, tem energia para fazer muitas coisas. Sentem-se acelerados, pilhados. Iniciam projetos com muita frequência, como estudar ou começar uma academia, mas raramente conseguem levar adiante, pois em outro momento, que pode ser no dia seguinte, encontram-se completamente apáticos e sem energia. São pessoas que devido à instabilidade do humor, raramente conseguem manter um relacionamento estável. Brigas e desentendimentos frequentes as tornam cansativas para os outros. Têm o sono irregular. Muitas vezes dormem pouco ou tem uma necessidade diminuída de sono e frequentemente apresentam o que chamamos de inversão do sono, ou seja, passam a noite acordados, com uma produção que não acontece durante o dia – um paciente disse que só conseguia compor seus poemas durante a madrugada – passando a maior parte do dia dormindo, com sensação de mal-estar e tristeza. São pessoas com uma baixa autoestima e também pequena autoconfiança, pois sentem-se incapazes de concluir um trabalho, mesmo que seja simples, como manter a sua casa organizada. Esse transtorno, ainda hoje, é pouco reconhecido pelos médicos, talvez porque os pacientes os procurem quando sentem-se deprimidos, tristes, sem vontade de fazer as coisas, e recebem o diagnóstico simplesmente de depressão. Sabemos que metade dos pacientes diagnosticados inicialmente como depressivos unipolares, na verdade são bipolares.
A consequência desse erro diagnóstico é drástica, pois a maioria desses pacientes vão receber antidepressivos, que muitas vezes, por jogar o ânimo do paciente para cima, podem induzir a oscilação do humor, aumentando as crises de agitação, aceleração do pensamento, ansiedade e agressividade, que pertencem ao polo oposto da depressão, também conhecido como hipomania, que caracteriza as pessoas que pertencem ao espectro bipolar.
O correto é procurar o psiquiatra, para um diagnóstico preciso e iniciar tratamento adequado, que muitas vezes reconduz o paciente para uma vida tranquila, com recuperação do trabalho e da vida conjugal.
Dr. Odeilton Tadeu Soares é Mestre em Psiquiatria pela USP. É Médico assistente da Clínica de Ansiedade e Depressão
Avenida Aratãs, 677 – Moema – Fone: 5051-1963

 

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