História
Delegacia pode se transformar em Memorial para vítimas da ditadura
O vereador Gilberto Natalini (PV) e o deputado estadual Adriano Diogo (PT) estiveram na semana passada em visita ao antigo prédio do Doi Codi (Destacamento de Operações de Informação do Centro de Operações de Defesa Interna. Em outras palavras, uma central de repressão do regime militar onde mais de 50 pessoas foram mortas e outras dezenas torturadas.
Entre elas, um dos símbolos tristes deste período difícil da história brasileira: Vladimir Herzog, que foi fotografado em uma cela do Doi Codi com uma corda no pescoço, para indicar que teria se suicidado, fato que se comprovou inverídico posteriormente.
O endereço tenebroso fica na Vila Mariana e ainda hoje abriga uma delegacia – a sede do 36o Distrito Policial, na Rua Tutóia, 921. E por mais que alguns tentem dizer que a tortura só acontecia em anexos aos fundos do prédio, faceados para a Rua Tomaz Carvalhal, integrantes da Comissão da Verdade avaliam que não. “O complexo todo precisa ser desocupado e se transformar em um memorial”, defende o deputado estadual Adriano Diogo.
Ele conta que há dificuldades nesse processo, mas acredita que a mobilização de vítimas, familiares e políticos poderá reverter o quadro.
Já existe um processo em andamento no Condephaat, órgão estadual que define os prédios que devem ser tombados como patrimônio histórico, arquitetônico ou artístico, desde abril de 2009.
“Há ainda outro impasse”, conta Adriano Diogo. “Paulo Maluf, quando governador, em 1979, criou um decreto cedendo todo aquele terreno ao Exército. Este decreto precisa ser revogado”, defende.
Como as duas ações dependem de decisões em âmbito estadual, Adriano Diogo avalia que o governador Geraldo Alckmin precisa se pronunciar. “São decisões poíticas do governador. Ele precisa revogar o decreto de concessão da área e acelerar o processo no Condephaat”, diz.
Niemeyer
Até o arquiteto Oscar Niemeyer avaliava que o antigo Doi Codi deveria ser desocupado e se transformar em um Memorial da Tortura. O projeto foi criado em 2001 quando Niemeyer tinha 94 anos – um dos últimos a ser elaborado por ele, que dizia ser um sonho ver a transformação do prédio da Tutóia. Em 2002, quando a carceragem do distrito foi desativada, a ideia chegou a ser considerada mas não houve empolgação do governo com a ideia.
Naquele ano, aliás, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, Niemeyer demonstrava a importância que o projeto tinha para ele. “Todo arquiteto tem projetos não realizados, mas há alguns que eu gostaria que fossem. Para o DOI-Codi, em São Paulo, eu tinha previsto um auditório, a cinemateca e uma área de protesto, uma praça rebaixada, onde ocorreriam exposições e manifestações”, contava Niemeyer em 2002. “É uma proposta radical, mas nos assuntos principais eu sempre vou ser radical.”