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De Cardeal Borgoglio a Papa Francisco:

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Se a renúncia do agora Papa Emérito Bento XVI pegou o mundo de surpresa, consideramos mais surpreendente ainda a escolha, pelos cardeais, de um jesuíta que, ao dar-se um nome inspirou-se em um santo dos mais populares e queridos na Igreja Católica e que viveu os ensinamentos de Jesus com absoluta radicalidade, amando os pobres, vivendo com eles e como eles – São Francisco de Assis. Cardeal Borgoglio agora é o Papa Francisco.

E a surpresa não parou. Se estendeu logo às suas primeiras atitudes, antes do que suas palavras, a começar lá da sacada onde foi anunciado sua escolha e ele apareceu pela primeira vez em público e, antes de dar a esperada bênção aos fiéis que aguardavam com ansiedade este momento, pediu a todos que rezassem por ele.  Logo de cara mostrou a justeza da escolha de seu nome.

A este gesto seguiram-se outros  tão surpreendentes quanto incomuns, pois desde João XXIII não presenciávamos tamanha simplicidade e ternura na pessoa do Sumo Pontífice, desde dispensar a limusine para andar de ônibus com os colegas cardeais, de pagar do próprio bolso as contas no hotel onde havia se hospedado, de improvisar suas falas com desenvoltura, de sair do papa móvel para beijar um portador de deficiência, de recusar anel papal de ouro bem como vestes rebuscadas, de rezar em silêncio pelos que não creem. Enfim, parece que esta lista vai crescendo a cada nova aparição e compromisso.

Mas, passados os primeiros momentos desta gostosa surpresa de uma Papa simples, humilde e terno como Francisco, vindo da periferia do mundo, conforme suas próprias palavras,  uma pergunta insistente se faz necessária: e agora, daqui para a frente, como vai ser?

Seguramente seus desafios são imensos. Poderíamos destacar, dentre alguns deles, retomar o princípio da colegialidade, da representatividade dos Bispos, tão marcante no Vaticano II. Vale lembrar que a América Latina, com a grande maioria dos católicos do mundo, é representada por 17 cardeais eleitores, enquanto que a Itália sozinha tem 28 desses e o resto da Europa 61. Além disso, sentimos a premência dele ser a voz e a presença do Pastor da Igreja, portadora da mensagem de Jesus, para todo o mundo, de modo especial, para o continente africano tão sofrido, além do asiático tão instigante e do latino americano tão promissor.  E, ainda, outro desafio que nos parece mais complicado e difícil que vai exigir dele, talvez, mais vigor que ternura, seja o de enfrentar a Cúria Romana, alvo de escândalos de corrupção e pedofilia – o Vatileaks – referido por Bento XVI na ocasião de sua renúncia, reorganizando seu pessoal para um maior alinhamento e compromisso com os valores da transparência e da ética, reedificando suas estruturas, resgatando sua credibilidade a fim de que ela recupere sua principal finalidade de ajudar o Papa e a Igreja a estarem  à serviço da Boa Nova de Jesus, e não voltada para si mesma, envolvida em coisas que fariam “corar” qualquer cidadão com um mínimo de princípios humanos, que dirá evangélicos.

Rezamos a Deus, “misericordioso, que não nos desamparará…” ( Cf. Livro do Deuteronômio 4:31), a  Maria, nossa intercessora junto a Jesus (Cf. Evangelho de João, 2:5),  que o ajudem a enfrentar, à maneira de Francisco seu inspirador, com coragem, firmeza e perseverança estes enormes desafios, para que a Igreja possa sempre se abrir  aos ventos do  Espírito que tanto sopraram  no Concilio  Vaticano II,  para fazerem dela, sobretudo, uma fiel seguidora de Jesus que veio “para que todos tivessem  vida e vida em abundância” ( Cf. Evangelho de João 10:10), sendo  um claro e inconfundível sinal de alegria e esperança para este mundo ainda tão marcado por injustiças e desigualdades e tão necessitado de Boas Novas.

Armindo Boll, Filósofo, teólogo, Mestre em História

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