Sociedade
Cresce número de famílias vivendo nas ruas
Seja sob as marquises da estação Conceição do Metrô, seja embaixo do viaduto Onze de Junho ou nas ilhas centrais da Rua Domingos de Morais, no Largo Ana Rosa… O triste cenário vem piorando a olhos vistos na cidade. A população em situação de rua só aumenta.
O que o paulistano já sabia por intuição agora foi comprovado pelo censo da população de Rua feito pela Prefeitura paulistana. O recenseamento, que havia sido feito em 2019, só teria de ser repetido, conforme prevê a legislação municipal, em 2023. Mas, com o agravamento da crise e com a intenção de oferecer respostas rápidas a Prefeitura se antecipou ao calendário e traçou o diagnóstico completo da realidade atual.
Feito a partir de critérios e metodologia científicos, por empresa contratada, o censo mostrou que enquanto em 2019 havia 24.344 pessoas em situação de rua na cidade, no final de 2021, havia 31.884 pessoas identificadas no Censo. Deste total, 19.209 foram recenseadas quando estavam em logradouros públicos e outras 12.675 enquanto estavam abrigadas nos Centros de Acolhida da rede socioasssistencial do município.
Para se ter uma ideia, das 645 cidades paulistas, 449, ou 69,6% do total, têm quantidade de moradores menor do que a população em situação de rua em São Paulo.
Se até pouco tempo atrás a população de rua se concentrava em alguns endereços, é bem verdade que agora há muito mais gente espalhada pela cidade, muitos pontos ocupados por várias barracas, o que também é perceptível para os paulistanos.
Da mesma forma, parece nítido que o número de mulheres e crianças nas vias públicas aumentou muito.
O número do que os recenseadores classificam como “moradias improvisadas” (barracas) nas ruas cresceu 330% em 2021, considerando-se os números de 2019. Enquanto no recenseamento anterior havia 2.051 pontos abordados com barracas improvisadas, em 2021 foram computados 6.778 pontos.
Na mesma esteira cresceu também o número de entrevistados informando ter, no local em que foram abordados nas ruas, a companhia de alguma pessoa que considera ser integrante de sua família. Enquanto em 2019, 20% da população em situação de rua deu esta declaração, em 2021 o percentual subiu para 28,6%.
o percentual de mulheres em situação de rua cresceu de 14,8% do total dessa população, em 2019, para 16,6% em 2021. Do mesmo modo, a população trans/travesti/agênero/não binário/outros também aumentou: representava 2,7% em 2019, e agora, soma 3,1% da população nas ruas da cidade.
O perfil majoritário continua masculino, em idade economicamente ativa, idade média de 41,7 anos em 2021. Do total de pessoas em situação de rua na capital paulista, 70,8% são pretos ou pardos
Do total, 39,2% das pessoas são naturais da cidade de São Paulo, 19,86% são de outras cidades do estado e 40,94% são de outros Estados.
Os principais motivos apontados pelos entrevistados para estarem situação de rua foram os conflitos familiares (34,7%), a dependência de álcool e outras drogas (29,5%) e a perda de trabalho/renda (28,4%).
O levantamento também mostra que após a situação de rua 42,8% não trabalham, 33,9% estão vivendo de bicos, 16,7% trabalham por conta própria, 3,9% empregados sem registro em carteira e 2,2% empregados com registro em carteira, ou seja, a maioria das pessoas que estão em situação de rua trabalha de alguma maneira.
O desejo de sair das ruas é da imensa maioria: 92,3%. Apenas 6% dos entrevistados disseram que não desejavam deixar de viver em situação de rua. Quando indagados sobre o que faria com que eles deixassem as ruas, para 45,7% é o emprego fixo, seguido da moradia (23,1%).