Urbanismo
Congonhas oferece riscos à vizinhança?
Sempre que há algum debate sobre os riscos de ter um aeroporto tão movimentado quanto Congonhas em área tão repleta de casas e prédios, muitos defendem que “o aeroporto chegou primeiro” e que os moradores que se instalaram ao redor devem saber do perigo e outros transtornos, como poluição, trânsito e barulhos.
Não é bem assim. Se as casas se instalaram ao redor, isso aconteceu antes de o Aeroporto ter tamanho movimento e receber aeronaves tão grandes. Também é preciso apontar que não houve controle dos órgãos públicos, no passado, nos níveis federal, estadual ou municipal, para evitar essa ocupação, impor limites.
Essa semana, menos de dois meses depois de anunciada a reforma da pista para maior segurança, um novo derrapamento de aeronave aconteceu em Congonhas.
O pneu de pouso de um avião de pequeno porte estourou, no início da tarde de domingo, dia 9, e manteve a pista principal interditada até as 22h18, apesar da mobilização das equipes da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero).
Com isso, somente no dia do acidente, foram cancelados 73 voos que deveriam sair do aeroporto e 67 previstos para chegar no terminal. No dia seguinte, o aeroporto seguiu operando com dificuldades e dezenas de voos, entre partidas e chegadas, cancelados ou com grandes atrasos.
O acidente está sendo investigado pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa) da Aeronáutica. Cinco pessoas estavam abordo do avião quando a aeronave saiu da pista e parou na área de taxiamento (deslocamento em solo das aeronaves) do aeroporto. Ninguém ficou ferido. A pista principal ficou interditada por aproximadamente 9 horas.
A situação lembrou o acidente com um Airbus da Tam em julho de 2007, porque a aeronave não conseguiu frear e, naquele mesmo ponto, atravessou a pista e se chocou contra um prédio na Avenida Washington Luis.
Embora o avião que se envolveu no incidente dessa semana seja de porte muito menor, trouxe novamente as dúvidas sobre a extensão da pista e a capacidade de contenção de aviões com algum problema no processo de frenagem.
Além da situação de riscos para a vizinhança, acidentes – ainda que sem vítimas – em Congonhas representam transtornos para os passageiros. Essa semana, longas filas se formaram por dois dias nos saguões do aeroporto.
A influenciadora digital Letícia Kava disse que estava dentro de outro avião no momento do acidente. Segundo ela, a tripulação e os passageiros do voo com destino a Curitiba ficaram algumas horas dentro da aeronave sem informações se seria possível decolar ou não. “A gente ficou no avião desde o meio dia e pouco até as 15h. O piloto não recebia notícias”, disse.
Letícia Chiquetto Kava teve o vôo para Curitiba cancelado. Teve que esperar mais 4 horas para conseguir a remarcação do voo para o dia seguinte, às 15h. “Voltamos para o aeroporto e ficamos até as 19h para resolver”, disse. O novo horário fez com que ela perdesse o ônibus para cidade onde mora, Irati, a cerca de 150 quilômetros de Curitiba.
A médica Tereza Barreto perdeu o voo que seguiria para Salvador. No final da manhã, ela esperava em uma longa fila para os guichês da companhia aérea. “Fiquei umas duas horas na linha [tentando falar com a empresa por telefone], e não consegui, desisti. No dia seguinte mais uma hora, só que a funcionária não conseguiu concluir o processo”, disse a passageira quando já estava há mais de 2 horas e 30 minutos em pé na fila. “Tinha agenda o dia todo de pacientes e tive que remarcar todo mundo”, disse.
O vendedor Murilo Tachine também tinha um voo para o Aeroporto de Navegantes, em Santa Catarina. “Chegamos umas 19h e não dava nem para andar”, disse sobre a situação que enfrentou ao ir para o Aeroporto de Congonhas no domingo. “A gente pegou um hotel por conta própria”, disse, acrescentando que diante do cenário nem tentou obter apoio da companhia aérea. “A gente até presenciou umas brigas”, lamentou ao descrever o clima no terminal.
Aviões pequenos
Após dois dias de filas, atrasos e cancelamentos, o Aeroporto de Congonhas, na zona sul da capital paulista, só voltou a operar normalmente na terça, 11.
No total, segundo a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), foram canceladas, no domingo, 110 chegadas e 112 decolagens, além de 98 voos que partiram do aeroporto com atraso e 99 que aterrissaram fora do horário previsto. Ontem, os cancelamentos atingiram 42 chegadas e 28 partidas. Foram registrados ainda, na segunda-feira, atrasos em 54 aterrissagens e 89 decolagens.
A Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) informou, por nota, que 300 voos da Gol e da Latam sofreram atrasos pelo acidente em Congonhas. A entidade pede a restrição a operação de “aeronaves de baixa performance” na pista principal do aeroporto. “Visto que os impactos causados por incidentes na pista principal de um aeroporto de grande porte impactam milhares de passageiros em todo o Brasil”, diz o comunicado da associação.
A Abear diz ainda que enviou um ofício a Infraero pedindo a restrição no último dia 29 de setembro.
A entidade também informou que “suas associadas estão flexibilizando a remarcação dos voos que sofreram atrasos e trabalham para reacomodar os passageiros”. A associação recomenda que os passageiros chequem as informações do voo antes de irem ao aeroporto.
A Gol informou que os problemas em Congonhas afetaram não só os voos naquele aeroporto, como em outros terminais no país. “A companhia está flexibilizando para que os clientes posterguem ou cancelem suas viagens sem custo até dia 23/10, dependendo apenas da disponibilidade de voos”, diz nota da empresa.
A Latam concedeu “total flexibilidade” para os passageiros com voos nos dias 9,10 e 11 de outubro para adiar ou cancelar as passagens.
Com informações da Agência Brasil