História
Centro de Arqueologia Forense na Vila Mariana é entregue a familiares de desaparecidos políticos
Em 2014, como parte dos eventos que relembraram os 50 anos do golpe militar, ficou definido que seria criada uma força tarefa para finalmente identificar as mais de mil ossadas encontradas, 24 anos antes, em um cemitério clandestino no bairro de Perus. E a Unifesp, sediada na Vila Mariana, seria encarregada de coordenar este trabalho.
Ainda naquele ano, seria oficialmente criado o Centro de Antropologia e Arqueologia Forense, com o objetivo prioritário de avaliar as ossadas dos desaparecidos políticos, da época do regime militar, mas também de outros casos.
Na sexta-feira passada, dia 1, o Centro foi simbolicamente entregue às “famílias” dos desaparecidos. Até então, a sede estava na reitoria da Unifesp, na Rua Botucatu, mas agora está em imóvel definitivo e que foi reformado para esta finalidade, também na Vila Mariana.
Assim, o ato teve como objetivo apresentar as novas instalações do CAAF após as reformas.
O espaço, único no Brasil destinado à atividade de antropologia e arqueologia forense, agora oferece melhores condições de trabalho para os especialistas do Grupo de Trabalho Perus (GTP).
Outra tarefa recentemente assumida pelo grupo será a análise dos crimes de maio de 2006, projeto desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford. Os assassinatos de 564 pessoas, a maioria de pobres na região periférica paulistana, aconteceram há 10 anos e até hoje não foram esclarecidos.
A nova estrutura do CAAF possui laboratório para análises de ossadas, com capacidade de comportar as 1.047 caixas, além de vestiários, copa, sala de reunião e salas de aula, onde deverão ser ministrados cursos de extensão com foco em direitos humanos.
A reitora da Unifesp, Soraya Smailli, homenageou os familiares dos desaparecidos políticos. “Nós decidimos não fazer uma inauguração formal, mas sim uma entrega simbólica. Nós chegamos a este momento porque vocês estavam a frente disso e não desistiram desta luta, que já perdura tantos anos. Tenham certeza que a Unifesp está a serviço deste trabalho e nós vamos concretizá-lo”, comentou. Ela também ressaltou o desejo da universidade em fazer as coisas acontecerem mais depressa, o que não é possível, pois a liberação dos recursos prometidos para este ano ainda não ocorreu.
Durante o encontro, Samuel Ferreira, coordenador científico do GTP, apresentou os resultados parciais do trabalho. Até o momento, das 1.047 caixas contendo restos mortais, 471 já foram limpas e preparadas para o estudo antropológico. Destas, 460 foram analisadas, nas quais foram identificados 368 indivíduos adultos homens, 69 mulheres e 23 indeterminados (crianças e/ou adolescentes). Também foi constatado que 26% estão mescladas, ou seja, possuem ossos de mais de uma pessoa.
A última parte da análise será a comparação genética das ossadas e dos familiares de desaparecidos políticos. Para isso, está sendo feita a coleta de sangue dos parentes dos 42 militantes da época da ditadura que podem estar dentre os restos mortais da vala de Perus. Até o momento, já foi realizada a coleta de 22 famílias e a previsão é que o banco do DNA esteja pronto até o final de 2016.
Além da reitora da universidade, participaram da inauguração da nova sede a presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), Eugênia Augusta Gonzaga, o secretário municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), Felipe de Paula, e a ministra afastada, Eleonora Menicucci, além dos peritos que atuam no processo de análise das ossadas de Perus e os familiares que têm esperança de encontrar seus entes queridos para dar-lhes um sepultamento digno.