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Política

Protestos por causas difusas param país

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Cerca de 100 mil pessoas, de acordo com avaliação da Polícia Militar, foram à Avenida Paulista no final da tarde de ontem, dia 20, para festejar a redução das tarifas de metrô, trem e ônibus. Na próxima segunda-feira, dia 24, os preços voltam aos R$ 3, mas o Movimento Passe Livre, que criou as manifestações, disse que quer ir além e eliminar a cobrança de passagens no transporte coletivo, ao menos para quem não tem recursos.

Uma manifestação que começou reduzida, com grupos fechando a Avenida Paulista, na semana passada, ganhou proporções não imaginadas e se espalhou pelo país depois de uma ação policial violenta e repressiva, na semana passada, que chegou a atingir integrantes da polícia imprensa. O resultado, entretanto, ainda é difícil prever: na noite de ontem, a passeata de São Paulo foi a que menos apresentou problemas, mas também não foi a que reuniu mais pessoas. Em outras cidades do país houve confronto entre a população e a polícia, excessos e tentativas de invasão de prédios públicos e até um atropelamento que acabou em morte em Ribeirão Preto, interior de São Paulo.

Ainda não se sabe, por outro lado, de onde sairá o dinheiro para custear a redução no valor das tarifas. Prefeitura e Governo ainda ameaçam reduzir investimentos – vale ressaltar que tanto o governador Geraldo Alckmin quanto o prefeito Fernando Haddad tem projetos ousados para melhoria no transporte público da cidade de São Paulo, com corredores de ônibus, bilhete único mensal, novas linhas de metrô e trem de superfície.

Objetivos

A manifestação popular é, mais do que legítima, necessária para o avanço do país. Por outro lado, a generalização das demandas que tomou conta das manifestações talvez seja seu maior defeito. Ao analisar os cartazes e faixas levados pelos jovens às ruas, é impossível perceber uma demanda específica. Críticas a investimentos com a Copa se misturavam a reinvindicações genéricas, como o fim da corrupção ou aumento dos investimentos em educação. Fica a pergunta: qual a expectativa concreta dos manifestantes?

É claro que há um sinal importante vindo das massas, de que deve haver mudanças. Em diferentes instâncias, nos diferentes poderes. Mas, quais e como? A falta de demanda específica resulta em um vazio de demandas. Pior: o excesso que se viu, por todo país, na noite de ontem, leva ao risco de instabilidade política que não é positivo para ninguém: cidadãos, empresários, agentes sociais, partido politico nenhum. O prejuízo pode ser generalizado.

Democracia pressupõe consenso e busca de demandas comuns para definição de prioridades. Para que sejam definidas, a população elege seus representantes – não só presidente, governador e prefeito, mas principalmente parlamentares: vereadores, deputados estaduais e federais, senadores. Uma demanda urgente no Brasil é justamente a reforma política, que dificultaria a eleição de representantes que estabeleçam moedas de troca para votar projetos de interesse de seu eleitorado. Cobrar esta alteração seria uma boa pauta para o movimento, exigindo uma agenda positiva do Congresso nacional. Acompanhar a execução orçamentária, nos três níveis de poder, é outra missão que a população precisa encampar.

Lutar contra partidos políticos, como muitos bradaram na noite de ontem, também não é positivo. Sem partidos, sem disputas de ideias e propostas, não há democracia, há ditadura. Se o movimento cresceu justamente quando a repressão à livre manifestação se intensificou, não faz sentido que lute exatamente pelo cerceamento à liberdade de expressão.

 

 

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